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A música conecta

Para o uruguaio Cooptrol, a música é quase uma religião. Falamos com ele:

Por Alan Medeiros em Entrevistas 09.08.2017

Já falamos anteriormente sobre o talento do uruguaio Cooptrol por aqui. O DJ e produtor Hernán Gonzáles vem desenvolvendo há mais de duas décadas uma estética sonora própria e diferenciada do que rola habitué das cenas house/techno. Gonzáles já trabalhou com diversos gêneros, entre eles o experimental e dubstep, e hoje foca em músicas voltadas para o dance floor.

No mês passado, Hernán lançou um EP pela gravadora brasileira Totoyov com três originais e dois remixes. O release mostra de forma explícita seu talento acima da média e o coloca em posição de respeito dentro do promissor cenário de música eletrônica uruguaio. Encantados com a atmosfera musical criada  por Cooptrol, conversamos com o artista para entender como ele torna possível a difícil tarefa de criar um som constantemente fresh mesmo após anos de estrada e contribuições com a indústria musical. Confira:

1 – Olá, Hernan! Tudo bem? Aqui do Brasil, sentimos que há algo realmente especial acontecendo com a cena uruguaia. O que você pode nos contar a respeito desse atual momento?

A cena uruguaia está chegando a uma maturidade onde temos uma quantidade de artistas que já mostram muita qualidade criativa e sonora em suas produções. Também há muitos DJs con nível internacional e já se pode encontrar alguns releases físicos de gravadoras uruguaias e faixas de produtores nacionais em gravadoras europeias. Aqui temos festas com artistas internacionais o tempo tudo e também o club Phonoteque, que já possui fama no mercado e na imprensa internacional. A dance music ainda é um gênero pequeno no país, mas o publico está se tornando maior a cada ano e algumas instituições culturais privadas e do estado estão começando a apoiar a cena.

2- Seu recente EP lançado pela Totoyov nos impressionou bastante e ficou marcado por um intercâmbio cultural direto com o Brasil. Essa foi a primeira vez que você colaborou com brasileiros? O que você sabe a respeito da cena do nosso país?

E a primeira vez que eu colaboro com brasileiros e acho que vocês tem um nível alto e muito profissional. Não conheço a cena em profundidade, mas é fácil captar que o mercado é tão exigente e competitivo quanto na Europa.

3 – Falando um pouco sobre inspirações… o que exatamente te motiva no estúdio? Outros movimentos artísticos tem exercido papel importante na construção de sua música?

Musicalmente minha principal inspiração é a música eletrônica experimental e o dub techno. As duas coisas tem muita influência de correntes filosóficas e da arte plástica. Fico igualmente inspirado pelas ideias de pensadores e escritores, assim como pelas obras de arte e arquitetura que procuram elegância e balanço preciso de seus elementos. Acho que criar música é uma forma de fazer escultura tendo o som como matéria prima.

4 – Você possui algumas experiências realmente especiais dentro do cenário sul-americano da música eletrônica. Na sua visão, o que as nossas pistas tem de mais especial?

Nós latinos temos uma forma única de sentir e expressar as emoções com a arte e a música. Isso não é comum de se observar em outras regiões. Acho que o nosso continente é o único que mantém firma a tradição rítmica da África e a leva a níveis mais sofisticados, coisa que os anglo-saxônicos e orientais não tem tão desenvolvido. A experiência coletiva de dançar é mais profunda aqui, vejo mais conexão entre as pessoas.

5 – Seus trabalhos como publicitário e designer de som contribuíram para um avanço de sua estética enquanto Cooptrol? Como você busca trabalhar o workflow de cada uma dessas atividades?

Meu trabalho, alem de oferecer um desenvolvimento técnico importante, me fornece uma capacidade de ser diverso e eclético dentro do meu estilo. Ele também me faz ser mais rápido e preciso na produção musical. Sou ágil para avançar e terminar projetos, por possuir tantos anos de prática no estúdio. As vezes isso me faz ser apurado demais e não tomar o tempo necessário para o detalhe. Porem, tento não ser automático demais quando faço minha música e procuro deixar que os processos emocionais maturem o resultado.

6 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

A música sempre foi um salva-vidas emocional para mim, um apoio que sempre fica ali perto para superar os momentos difíceis da vida. Poderia dizer que é quase uma religião. Todas as minhas relações pessoas são condicionadas pela música de alguma forma. Devo toda minha existência a esta forma de arte, ela me faz evoluir espiritualmente e fisicamente, além de me manter vivo materialmente.

A música conecta as pessoas!

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