Há 15 anos, um dos presentes mais comuns nos amigos secretos de empresas, aniversários e datas especiais, eram os famosos vale compras em lojas de discos e CDs. Poder “tocar” um álbum de um artista preferido, ler o encarte, levar o disco para qualquer lugar era realmente fascinante. Para muitos, essa época não dava indícios que teria seu fim, mas teve.
A praticidade e agilidade proporcionada pelos arquivos digitais transformou o mercado e mudou pra sempre a forma como consumimos música. O streaming, alguns anos depois, provocou uma transformação ainda maior em todas as esferas da indústria. Desde o consumidor final, até a parte de planejamento estratégico das maiores gravadoras tiveram que se adequar. Tais mudanças geraram uma revolução quase que cultural que só foi possível graças a popularização da internet.
Soundcloud, YouTube e Spotify aproximaram os major labels dos selos independentes e isso passa muito pela existência e método de trabalho das distribuidoras, que basicamente conectam os selos e gravadoras as plataformas e lojas digitais. A Believe é uma das maiores distribuidoras do mundo e atua fortemente em países como Inglaterra, Estado sUnidos, Canada, Alemanha, Espanha, Brasil, Suécia e India. Por aqui, Eduardo Ramos é um dos cabeças da marca. Ele participou de um painel Questions&Answers no Alataj Conference Porto Alegre e há alguns dias respondeu uma entrevista exclusiva que você confere a seguir:
1 – Olá, Eduardo! Obrigado por falar conosco. Os números do mercado do streaming crescem de maneira absurda no Brasil e no mundo. Atualmente, quem lidera o mercado? Há perspectiva de mudança desse cenário em um futuro breve?
Obrigado pela oportunidade! Este processo é irreversível, não existe outra opção melhor que o streaming. O download acabou virando um nicho e hoje em dia é uma opção para quem precisa do arquivo para basicamente tocar (um DJ por exemplo) ou um audiófilo que quer ter o arquivo descomprimido na melhor qualidade possível. Para o consumidor final, uma pessoa normal, não existe opção melhor do que o streaming.
2 – Quão prejudicial é a internet brasileira para o avanço do streaming no país?
A realidade do Brasil é complexa e não necessariamente o fato de que em alguns estados o acesso em casa/trabalho seja relativamente bom, significa que no resto do país acontece o mesmo. Eu tenho choques de realidade quando vou para o interior e vejo que em certos lugares o streaming está longe de ser uma realidade. Pen drives com músicas ripadas do Youtube ou conteúdo ilegal de sites de mp3 são a regra. Mas minha teoria é que para o streaming consolidar-se no Brasil, a situação econômica precisa melhorar pois isso dá acesso ao hardware (computadores, celulares e conexão) e software (serviço de streaming).
3 – Agora, sobre a Believe. Fale um pouco sobre o trabalho da distribuidora, artistas que representam e filosofia de trabalho.
A Believe é a maior distribudora independente em atividade no mundo e a única realmente global com escritórios e representantes nos quatro cantos do planeta, portanto lidamos com todo tipo de música sem preconceito algum. Em alguns países existem gêneros um pouco mais representados e isso reflete um pouco com a música eletrônica pois a Believe trabalha com grandes nomes como Four Tet, Bjork, Browswood (selo do Gilles Peterson), Future Classic (com Flume, Chet Faker e Flight Facilities), Fatboy Slim e grandes nomes na França (onde a empresa tem sua sede). A filosofia de trabalho é sempre apoiar os selos e dar o melhor suporte para os lançamentos e cuidar bem do catálogo.
4 – Quais os planos da Believe para o Brasil? Vocês enxergam o mercado da música eletrônica com grande potencial ou os números ainda são ilusórios quando comparados a outros nichos?
5 – Atualmente, quais são os principais projetos da música eletrônica brasileira que estão sendo gerenciados pela Believe?
O primeiro selo que eu assinei quando eu entrei na Believe foi a Mamba Negra que dispensa comentários. A Cashu e a Laura respondem bem as sugestões e estão aprendendo com esta nova maneira de trabalhar. Alex Justino e o seu selo já trabalhavam com a Believe e agora eu estou acompanhando mais de perto. Acabei de fechar com a D-EDGE que trabalha com a Kompakt para o resto do mundo, e agora vamos começar a gerenciar os projetos para o Brasil e pensar em uma estratégia de longo prazo. A BLANCAh é assinada com um selo alemão e nós também estamos tentando organizar as coisas por aqui. Acabei de fechar com a Urban Soul que é um selo novo, mas que promete.
6 – Olhando para a cena num nível global, quais são as principais estratégias que você tem observado para divulgação de lançamentos dentro da plataforma Spotify?
Fazer com calma e cuidar planejamento. Raramente isto acontece pois no Brasil não existe uma cultura de planejamento na indústria fonográfica, então a maior dificuldade é esta. Um disco bem organizado e com um plano de mídia/divulgação (explicando como vai acontecer o lançamento) é o ideal. O Spotify receber centenas de pedido de destaque, mas antes de pensar o nisso o artista tem que criar algo com seu próprio público.
7 – Atualmente, quão difícil é para um artista independente ter contato direto com as principais plataformas digitais? Na sua visão, falta suporte para esse tipo de profissional?
8 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?