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A música conecta

O jovem Kosmo traz a força da nova cena clubber de Floripa

Por Alan Medeiros em Entrevistas 07.02.2017

Arthur Erpen é um DJ e fomentador cultura de Florianópolis, que até ano passado era conhecido pela alcunha Lowception. No mesmo período em que sua carreira entrou num momento de grande crescimento, ele tomou a difícil decisão de mudar seu nome artístico. Kosmo passou a ser o nome do seu projeto como DJ e a gig que marcou essa transformação foi sua estreia como residente do Terraza Music Park.

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Além da residência conquistada no principal club de Floripa, Arthur também pode se orgulhar da Bateu, ideia concebida e produzida por ele em parceria com Le Calve. A festa propõe um dos ambientes mais diversificados da ilha e a pluralidade é uma palavra chave na caminhada do projeto, que preza muito pelo respeito no dance floor. No próximo fim de semana a Bateu completa um ano e convoca a nova iorquina Volvox, membro do coletivo Discwoman, para uma noite de house e techno no rancho do pescador.

Convidamos Arthur para um bate-papo sobre o momento atual de sua carreira e projetos paralelos. Esse fim de semana ele toca no Terraza ao lado de Ricardo Lin e na Bateu. No próximo dia 18, ele estreia na ODD em São Paulo. Quer conhecer mais sobre o trabalho do garoto? Então se liga no que vem por aí. A música conecta as pessoas!

1 – Olá, Arthur! Tudo bem? 2016 foi certamente o ano mais importante da sua carreira, foram realmente muitas novidades. O que representou pra você conquistas como a residência no Terraza, o convite para tocar na ODD e um reconhecimento maior a nível nacional?

Oi Alan! Tudo ótimo! É um prazer estar conversando com vocês novamente, vejo que o portal está ficando cada vez mais forte, parabéns! Essas conquistas mostraram para mim que estou no caminho certo. Nós artistas tomamos diversas decisões que impactam diretamente na nossa carreira. E, enquanto o resultado não vem, resta aquela dúvida sobre estar no caminho certo ou não. Percebo que muitos artistas possuem medo de se posicionarem politicamente, não sobre PT versus PSDB, mas sobre questões como discriminação de gênero em festas que cobram valores diferenciados de ingresso para homens e mulheres, com medo de fecharem portas e perderem oportunidades no mercado. Esse medo não é irracional, existe sim uma ala mais conservadora do mercado de música eletrônica que dificilmente aceitaria um DJ com posicionamento político de esquerda, assim como existe outra ala preocupada com questões de gênero, sexualidade e outras formas de preconceito, que dificilmente aceitaria um DJ conservador. Esse ano me fez perceber que é necessário que artistas se posicionem. Quase todos os movimentos relevantes da história da música estavam inseridos em um contexto político-social, a música eletrônica não é diferente.

2 – Sabemos que o conceito de underground é muito variável, mas na sua visão, a Bateu é uma festa que preza por uma atmosfera desse tipo? Quais são as principais características presentes na identidade da festa? O que a Bateu oferece de diferente em relação aos demais eventos da capital catarinense?

Partindo do pressuposto que o underground representa aquilo que transgride, que busca quebrar paradigmas, sim. Enquanto a maioria das festas optam por colocar na descrição do evento que o consumo de drogas não é tolerado, na Bateu preferimos deixar claro que formas de opressão como machismo, racismo ou lgbtfobia não são toleradas. Procuramos fugir do óbvio e ser diferente em diversos aspectos. O posicionamento político é um grande ponto, porém toda a nossa estética, tanto visual quanto de som, são diferentes. Não bookamos artistas que estão bombando, não fazemos infinitos convites no nosso evento ou spam nas redes sociais, nossa comunicação na página é diferente também, nunca utilizamos clichês como “gente bonita” / “soundsystem potente”, etc. Procuramos não entregar um produto óbvio pro nosso público, mas sim despertar curiosidade e surpreender quem decide conhecer nossa festa. O crescimento orgânico é lento, porém essencial para qualquer evento que busca longevidade.

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Flyer da Bateu o Calor Libidinoso como Volvox

3 – Você sempre tocou sob a alcunha Lowception e no fim do ano passado decidiu mudar para Kosmo. Quais motivos te levaram a essa decisão? Você tem enfrentado dificuldades frente ao público na fixação desse novo nome?

A ideia de mudar o nome sempre esteve na minha cabeça desde quando eu tocava com o Thomas sob essa alcunha e ele decidiu parar de tocar. Como já tínhamos conquistado certo prestígio com esse nome, como a residência no festival Injeção Eletrônica, e não possuía outra ideia de nome melhor, decidi manter. Com o tempo, cada vez mais minha vontade de mudar o nome aumentava, pois já não gostava de Lowception e queria um nome mais maduro, com que eu me identificasse de verdade. Quando recebi o convite para ser residente do Terraza, decidi aproveitar o momento para fazer a troca. Tive apenas uma semana para definir o novo nome, pois sabia que o anúncio da residência tomaria grandes proporções e ajudaria na fixação, já que o clube possui um enorme alcance ao público. Não foi fácil escolher, quem ajudou foi meu amigo e mentor Rafa Moura. Não tenho enfrentado dificuldades, principalmente porque minha conexão com o público aqui em Florianópolis também é forte, todos assimilaram bem e a mudança foi bem vista.

4 – O primeiro aniversário da Bateu vai ser comemorado com a Volvox, uma excelente DJ e inédita em Santa Catarina. Fale um pouco sobre as novidades que a festa irá trazer e as expectativas que vocês possuem acerca do primeiro headliner gringo.

A maior novidade é realmente a Volvox, ela é uma expoente do techno e possui um som bem característico, puxado pro acid. No último ano, se apresentou no Boiler Room, duas vezes no Berghain/Panorama, gravou um mix para o Resident Advisor e está bookada para grandes eventos como o Dekmantel em Amsterdã. Nossa expectativa é de lotação máxima, com até 400 pessoas, assim como no nosso último evento, e que o público tenha uma experiência realmente intensa, do começo ao fim.

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5 – Florianópolis tá passando por um momento onde o perfil clubber da população jovem está muito evidente. Como você avalia a atual situação do mercado eletrônico na cidade num paralelo com o restante do país?

Vejo que nos últimos dois anos algumas características da cena de cidades como São Paulo e Curitiba começaram a estar presentes em Floripa. O Terraza se popularizou e com isso tivemos aparições de grandes artistas, como Carl Craig, Makam, Ion Ludwig, Petre Inspirescu, tINI, entre outros grandes line ups que raramente víamos por aqui anteriormente. Um fator da cidade que sempre me incomodou foi a ausência de público lgbt e alternativo nos eventos de música eletrônica. Isso acontecia pois a música eletrônica estava presente apenas em ambientes elitizados, com valores diferenciados de entrada, camarotes e outros fatores que espantava esse tipo de público da música eletrônica. Não consigo aceitar que a dance music tenha nascido em guetos gays e negros e que 30 anos depois esse público não possua um lugar onde se sinta confortável para dançar. A única festa que reunia público diversificado na cidade era o Sounds in da City. Nos últimos anos, esse movimento começou a voltar para o Centro da cidade, em clubes alternativos, como Treze, Blues e 1007. Isso fez com que o público de música eletrônica se renovasse. O próprio público do Terraza mudou muito de 2012 pra cá, antes víamos no backstage e camarotes apenas brancos, ricos e héteros. Hoje o clube é frequentado por um público super diversificado. Isso também aconteceu por uma mudança no direcionamento da marca, que observou que a cena estava mudando e começou a se posicionar em algumas situações, como a troca da foto de perfil do clube para uma com filtro de arco íris no dia do orgulho lgbt, entre outras pequenas atitudes que acabam fazendo uma grande diferença.

https://www.youtube.com/watch?v=9bD1DVjUZpY

6 – A todo momento a gente acompanha notícias sobre violência contra mulheres e homossexuais em diversos ambientes da sociedade brasileira. Eu percebo que você possui uma preocupação muito grande com esse assunto na produção da Bateu. Quais os cuidados que vocês tomam para que o ambiente da festa seja algo totalmente confortável para todos?

Atualmente somos em 6 pessoas, temos gays, mulheres e negros na produção do evento. Todos já passaram por algum tipo de assédio ou opressão, e todos possuem um grande desejo de construir um ambiente seguro e confortável para todos. Esse é nosso principal objetivo, e todos os aspectos da festa são pensados com base nele, escolha do lugar, identidade visual, nome, comunicação, atrações, tudo. Na descrição do nosso evento consta um aviso bem grande de que se você “respeita, mas…” qualquer grupo minoritário, você não é bem vindo na Bateu. Além disso, pessoas sem ingresso antecipado ou nome na lista (confirmação no evento do facebook) não possuem acesso à festa, assim evitamos que alguém apareça lá sem saber do que se trata o evento. Também não é permitido fotografar ou filmar qualquer ambiente da festa, para que todos se sintam à vontade para serem quem quiserem, para que ninguém vá na festa com o intuito de fomentar seu status nas redes sociais e sim para aproveitar e viver a experiência daquele momento.

7 – Você tem planos de iniciar estudos na produção musical? Por falar em planos, quais são seus principais objetivos para 2017?

Tenho, porém nesse ano estou terminando minha faculdade de Ciências da Computação, e, além de trabalhar como DJ e produtor de eventos, trabalho como programador em um laboratório da UFSC, o que torna meu tempo extremamente limitado. Em abril meu projeto nesse laboratório acaba e com isso meu plano é aumentar a periodicidade da Bateu, vamos tentar realizar a festa mensalmente. Também pretendo criar meu site e fomentar mais minha página de artista com conteúdo relacionado a gigs, fotos, vídeos, sets, etc. Foi algo que deixei meio de lado em 2016 e quero melhorar. Além desses pontos, nesse ano vou encabeçar a produção e venda dos showcases do Terraza e por fim espero apresentar meu TCC, finalizar minha graduação e me dedicar apenas à música eletrônica. Em 2018 entro de cabeça na produção musical, mas quero passar bastante tempo apenas estudando e desenvolvendo minha técnica, não tenho objetivo de lançar nada antes de 2020.

8 – Para finalizar, nossa clássica pergunta final. O que a música representa em sua vida?

Tudo. Música é minha vida.

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