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A música conecta

Os 10 anos de carreira de Danee

Por Alan Medeiros em Troally 21.02.2017

Um dos principais representantes do DJing em Santa Catarina atende pelo nome de Danee. O catarinense ganhou representatividade após uma série de warm ups memoráveis no pistão do Warung Beach Club. Seus sets que antecederam apresentações de nomes como Magda e Hernan Cattaneo são lembrados pelo público até hoje, algo que raramente acontece com artistas nacionais.

Até chegar as principais pistas do Brasil, Danee teve que percorrer um caminho de muito trabalho e pesquisa. Ele era parte de um dos primeiros núcleos fomentadores de informação no litoral catarinense, o 128bpm. Após o fim do projeto, dedicou-se a construção de seu próprio label, o SENZ, projeto que tem como principal meta uma maior valorização dos artistas nacionais. Hoje, Daniel é residente do detroitbr, núcleo pelo qual possui maior proximidade e colaboração no momento.

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Esse ano, Danee comemora 10 anos de carreira e para celebrar uma conquista tão importante, convidamos o DJ para um bate-papo sobre sua caminhada dentro da música eletrônica. Ele também preparou um set especial, que marca a edição 98 da Troally. Música de verdade por gente que faz a diferença!

1 – Olá, Danee! Tudo bem? 10 anos de carreira realmente não é uma marca fácil de ser atingida. Quando você olha para o início da sua caminhada como DJ, do que você sente mais falta?

Oi Alan, obrigado pelo espaço novamente! São 10 de carreira, mas de pista já são uns 15… Na verdade, acho que não sinto falta de tanta coisa assim, é mais um saudosismo e boas lembranças das dificuldades e do aprendizado que era sair na noite em Balneário Camboriú e região. As coisas eram muito mais difíceis naquela época pra quem estava começando a tocar porque o acesso a conteúdo e informação em português eram bem reduzidos, digo, eu acessava muito o Eletrogralha, o rraurl e o blog vidaeletronika, mas eram basicamente voltados as suas regiões (Curitiba e São Paulo), então eu tinha que sempre estar de olho no que estava rolando nesses centros pra poder me antenar e começar a direcionar minhas idéias por aqui. Hoje quem está começando a tocar, produzir ou escrever, já chega tendo acesso a conteúdos e materiais muito profissionais falando da cena da sua região ou do seu estado (canais de youtube e facebook, rádios e podcasts, portais e revistas especializados, núcleos e festas independentes, escolas de DJs e conferências), o que é ótimo como uma porta de entrada e primeiro contato.

2 – Você possui uma ligação muito especial com o detroitbr, não é mesmo? Como isso começou? De que forma você e projeto tem buscado conciliar objetivos e crescer em conjunto?

Desde o começo eu sempre admirei muito os artistas e a cena local e tinha claro na minha cabeça que gostaria de ser uma parte ativa desse movimento, pra mim uma cena forte é onde uma cena local é reconhecida. Em 2010 eu fazia parte de um núcleo que teve muita visibilidade no estado e no sul do país pelo trabalho que desenvolvemos por aqui e dentro do Warung, a 128bpm, e isso pra mim está muito ligado com a relação que eu tenho com o detroitbr hoje. A 128bpm acabou e ajudou a me posicionar, impulsionar minha carreira e para o que eu tinha em mente. Em 2014 fui convidado a fazer parte do detroitbr, eles estavam logo no início, eu sabia que era um desafio que eu estava pronto a enfrentar junto com eles e o que me foi apresentado. Eles já contavam com um grupo grande de pessoas com os mesmos valores e ideais que eu priorizava, tratando as coisas de uma maneira muito profissional e organizada, valorizando e engrandecendo o trabalho de artistas locais assim como eu. Hoje nosso objetivo é fortalecer o projeto, elevando a qualidade em todos os aspectos, trazendo pra cima todos que estiverem juntos.

3 – Seus warm ups no pistão do Warung já se tornaram uma marca registrada na sua carreira. Quão importante é pra você essa experiência? Qual seu set preferido por lá?

Eu sempre tento deixar muito claro pra eles o quanto foram e são importantes pra mim de modo que foram peça fundamental no desenvolvimento do meu gosto musical, da maneira que eu enxergo e me relaciono com a cena e da postura que eu tenho hoje como DJ. A primeira vez que eu toquei lá foi em 2008 fazendo um warm up para os 10 anos de Leozinho & Paciornik (lembro como se fosse ontem), desde então eu devo ter tocado mais de 20 vezes no Warung, o que é motivo de um orgulho e realização pessoal muito grande dentro mim por conseguir responder na pista a confiança que eles depositam em mim, um DJ local. Sempre gostei de gravar sets e podcasts com uma pegada mais lenta, então fazer warm up pra mim é algo muito natural porque a construção de uma história dentro dos meus sets também é uma das minha marcas e de alguns anos pra cá eles tem confiado a mim a tarefa de abrir o clube e receber as atrações da noite, entre as que mais me enchem de orgulho e boas lembranças foram o warm up para o primeiro showcase da Items & Things no Brasil em 2013, Gorge no Garden em 2014 e Hernan Cattaneo 2015 (foi o primeiro DJ que eu vi no Warung em 2005).

4 – Muito se fala hoje sobre a super valorização dos produtores em relação aos DJs. Você já pensou em iniciar algum estudo na produção musical? O DJing te completa artisticamente?

Acredito que nos dias de hoje o artista precisa ser completo, apenas uma boa pesquisa pode te fazer um bom artista, mas para o próximo “level” acho que a musicalização é fundamental, é a sua alma transformada em notas e melodias, é a marca que você vai deixar no mundo. Recentemente comecei me envolver com a produção musical sim, já havia tentado outras vezes mas parei no caminho porque não me sentia maduro pra isso. Hoje as coisas são mais próximas, a troca de informação é mais rápida assim como os feedbacks. Agora em 2017 devo lançar meu primeiro EP em parceria com uma dupla que eu sou fã e admiro muito o trabalho deles e até o final do ano pretendo fechar um EP solo, é uma coisa que não tenho pressa para que aconteça e vou trabalhar em cima nos próximos anos.

5 – Na sua visão, qual o principal papel do DJ numa noite?

A principal: fazer a pista dançar, se divertir, com certeza!! Acho que ninguém deveria sair de casa pensando algo diferente disso [risos], primeiro todos saem pra se divertir, estando lá se divertindo você absorve o que o artista quer passar com sua pesquisa, seu trabalho, identidade, etc. Acho que se você não sai de casa pra se divertir, a pista de dança perdeu o sentido.

6 – Qual sua opinião em relação as intensas transições de popularidade entre os estilos musicais e como você busca se manter atualizado em um mercado tão dinâmico?

É algo natural e temos que estar todos preparados para as mudanças que tem acontecido de maneira cada vez mais rápidas e vão sempre acontecer. E é tudo um loop né? As coisas vão e voltam, as vezes com uma roupagem mais moderna, as vezes com uma roupagem mais popular. Acho que você precisa estar em dia com suas pesquisas e leituras, fazer com que sua identidade (o som que você acredita) brilhe em você e que você seja reconhecido por isso, só assim seu trabalho pode se manter interessante e transpor esses modismos.

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7 – Você é um adepto da cultura do vinil? No que diz respeito as mídias, em qual formato você se sente mais confortável para trabalhar?

Quando eu comecei a me interessar pela discotecagem eu pedi um par de toca-discos de aniversário, sem saber muito como funcionava ou quanto custava pra manter. Quando me dei conta que pra comprar 01 (um) disco eu tinha que gastar minha mesada do mês, comprei alguns.. mas eu vi que podia demorar muito pra montar uma case [muitos risos]. Logo eu vendi e comprei um par de CDJ Pioneer 100S, toquei muitos anos com CD, depois quando surgiu o traktor também cheguei usar esse recurso em 4 decks, atualmente toco apenas com pen-drives pela praticidade principalmente, acho que atende perfeitamente meu estilo.

8 – Fora da música eletrônica, o que você tem escutado ultimamente? Quem são seus artistas preferidos do momento?

Pra ser sincero, escuto pouca coisa que não seja eletrônico e isso foi desde sempre. Meu gosto eu construí ouvindo programas de rádio com dance music, sempre que tocava algo fora desse gênero eu afirmava cada vez mais meu gosto. Mas se estou com os amigos, gosto de ouvir algumas coisas variadas desde MPB, reggae, é mais nessa pegada. Gosto de Marisa Monte (queria muito ir num show dela), Amy Winehouse é muito presente na minha vida ainda e mais recentemente a banda The XX.

9 – Quando você está na pista, como clubber, o que te prende mais atenção em um set?

Ainda hoje eu saio bastante pra ouvir os DJs que eu mais gosto, pra descobrir DJs novos, pra prestigiar meus amigos, a cena local, etc. E os DJs que me prendem a atenção são aqueles que te surpreendem com uma boa pesquisa, uma boa mixagem e com isso dai conseguir construir uma boa história com começo, meio e fim. Pra mim os long sets são maravilhosos por causa disso, é extremamente enriquecedor presenciar um bom DJ trabalhando por horas e no final tudo parecer ter sentido.

10 – Para finalizar uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

É meu estilo de vida, minha tribo, onde conheci ótimos amigos, pessoas muito parecidas comigo. Se não houvesse música na minha vida, ela não seria completa.

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