Esse fim de semana será especial para Bernardo Ziembik. Além de ter sido escalado para tocar no aniversário de 4 anos do detroitbr (Bernardo também sobre velas esse mês) ele fará o warm up para o artista que é a sua principal referência musical. Estamos falando do francês Traumer, um dos artistas mais singulares da atual geração de produtores internacionais, com trabalhos de extrema relevância no techno, house e minimal.
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Essa será a primeira vez que Traumer tocará no Brasil após sua memorável (e até certo ponto caótica) passagem na Tribaltech de 2015. Mesmo em uma ocasião nada favorável, Romain Reynaud (seu nome de batismo) conquistou uma legião de fãs brasileiros, entre eles Bernardo Ziembik. Além da presença de Romain, todas as circunstâncias do evento contribuem para que a noite seja realmente especial. Ziembik tem construído uma forte relação com o detroitbr desde o seu surgimento e somado a isso, a locação escolhida para a festa (Galeras na Praia Brava) é um capítulo a parte e deve deixar a noite com uma atmosfera ainda mais interessante. Ouça abaixo a estreia de Bernardo no Alaplay Podcast
O coletivo de Itajaí é – como seu próprio nome já indica – responsável por difundir a real cultura musical de Detroit por terras brasileiras e nesse fim de semana vive mais um momento de next level, não somente pela estreia de Traumer em um de seus eventos, mas também pela representatividade que seus residentes estão alcançando – Andre Anttony também está escalado para o line up. Nesse bate-papo exclusivo, Bernardo Ziembik abre o jogo sobre o atual momento de sua carreira. Confira:
1 – Olá, Bernardo! Tudo bem? É um grande prazer falar com você. Os últimos anos tem sido realmente especiais em sua carreira. A quais fatores você credita essa evolução que vem acontecendo?
Oi, Alan. Tudo bem. Como sempre, um prazer participar do Alataj. Cara, muito trabalho. Nos últimos anos decidi que é isso que quero para minha vida, é como vou me sustentar, é o que me dá prazer. Partindo desse princípio, me joguei de cabeça em vários projetos, além de ter sido convidado para me participar de alguns outros ótimos. Cresci, amadureci, ganhei idade, alguns cabelos brancos, experiências que me tornaram um artista melhor, tanto musicalmente quanto em vivência para entender como devia me posicionar no mercado. Mudanças na minha vida pessoal fizeram a diferença também nesse processo.
2 – Terraza e detroitbr são duas marcas que ofereceram um grande suporte para o seu crescimento pessoal e profissional, não é mesmo? Como cada uma delas contribuiu exatamente?
Sou muito grato por essas duas oportunidades. Já era fã do Terraza de Floripa, frequentava o clube e produzia meus eventos independentes aqui no Vale do Itajaí. Quando veio o convite para estar 100% envolvido na concepção do Terraza de Balneário Camboriú e ainda ser residente, fiquei muito, muito feliz. Lá podia estar dentro de todas as partes de um evento, conheci pessoas incríveis, conversei com artistas que antes eu era apenas admirador, fatores que me impulsionaram a querer mais e mais trabalhar com isso.
Já no detroitbr a coisa foi diferente. Gostava do ideal do projeto e fui convidado a me tornar residente. Mas era algo embrionário, muitas vezes um sonho. O interessante foi ver que todos os profissionais evoluíram e conseguiram trazer sua experiência para o projeto, inclui-lo no seu ecossistema, fatos que, obviamente, fizeram a marca evoluir. Estamos completando 4 anos com grandes perspectivas para o futuro. O que os dois tem em comum e me fizeram crescer muito foi o feeling de pista. Quando me apresento no club ou no núcleo, ali da cabine posso sentir uma transmissão de energia muito intensa com todo o público. Acredito que esse contato é um fator chave para a evolução de um artista.
3 – No próximo dia 11 você enfim tocará ao lado do Traumer. O que esse artista e essa gig representam pra você? É possível dizer que esse será o momento mais especial da sua carreira, emocionalmente falando?
Finalmente! Vou tentar resumir essa história: o conheci em um momento muito importante da minha carreira, quando estava em um processo de mudança de linha de som. Ouvi seu EP Dedust, pela Desolat, e me encantei. Logo ele estourou com Hoodlum e ganhou notoriedade no mercado. Naquela época, fiquei ansioso para ouvi-lo tocar e esse dia chegou em 2015, no festival Tribaltech. Minha expectativa com a experiência na festa e com o seu set era outra. Não sei como explicar, não só foi diferente, como foi contrária. Ao mesmo tempo, foi absurda. Desde então, tentei viabilizar sua volta ao Brasil. Tentei fazê-lo no Terraza, tentei produzir evento independente com ele, tentei vende-lo e montar uma tour em festa de conhecidos, apenas para ter o prazer de novamente ouvi-lo. O ano de 2017 estava acabando, achei que seria mais um sem novamente te-lo por aqui, quando, de repente, eis que surge a comemoração de 4 anos de detroitbr com ele, 6 dias antes do meu aniversário. Cara, sim, é um momento único na minha carreira. Não sei se o mais especial, pois prefiro não qualificar esse tipo de coisa. Acho que cada coisa acontece na hora que deve acontecer, sabe? Um lance meio espiritual [risos]
4 – Produção musical: sabemos que você tem algumas novidades que em breve ganharão a luz do dia. Quais são os planos e o que já está confirmado para esses trabalhos?
Em breve sai um remix que fiz para o duo Kultra pela Cabana Music. Tive o prazer de ir para o Warung recentemente e ouvir a faixa tocando no clube, nas mãos do meu amigo Tarter. Ouvi pela primeira vez no PA e já quero ajustar um monte de coisa (a gente sempre quer mexer). Estou trabalhando com mais frequência também com meu amigo André Anttony, que é também do detroitbr, professor da Aimec e ótimo produtor musical. Em breve nós dois teremos novidades. Esse é um nicho muito importante, que eu estou organizando tempo para conseguir expandir e melhorar meu processo criativo. Esse EP pelo Cabana impulsionou vários artistas a quererem mais no estúdio. Acredito que o próximo ano será o melhor da trilogia (2016, 2017 e 2018).
5 – Club Vibe, hoss, Levels… muitas estreias e retornos importantes aconteceram nos últimos meses. O que você destacaria pra gente?
Nossa, você já começou citando três datas muito especiais. A primeira foi ano passado, após um set absurdo da Vera. Me virei nos trinta e a experiência foi maravilhosa. As outras duas estão ligadas a minha abertura de mercado para o Rio Grande do Sul, estado que fui extremamente bem recebido e conheci pessoas maravilhosas. O hoss é em Passo Fundo, inferninho, uma delicia de clube. Sem contar a recepção, que foi de outro mundo. A Levels foi aquela gig inexplicável. Toquei no final, após um live excelente do Rodriguez Jr, em uma das locações mais legais que já vi, com uma produção linda. Foi realmente especial! Destaco ainda minha gig em São Paulo, na Capslock. A galera lá tá fazendo um trabalho independente incrível. Indo contra tudo e todos, essa festa traz um tom de liberdade tremendo. Meu set foi ótimo, toquei no final, o que eu queria, por quase 5 horas. Falando em Terrraza, sou obrigado a lembrar do meu closing set para o Derrick May. Talvez a maior responsa e o momento mais nervoso que eu já estive pré set. O cara é um monstro mesmo. Esse dia foi demais! Além disso, preciso lembrar minhas duas gigs no Terraza BC desse ano. Fiz um closing set para o Gaturamo no começo do ano e recentemente warm up no aniversario do Terraza BC. Como sai da produção dos eventos ano passado, dessa vez me senti liberto para realmente pensar apenas musicalmente, apenas na entrega do set. Dessa forma, pude me conectar melhor com as pessoas e sair mais satisfeito das apresentações.
6 – Esse ano você saiu de Itajaí e se mudou para Itapema, certo? O que essa mudança representou no seu workflow? A tranquilidade da cidade tem contribuido para o seu processo criativo?
Certo! Lembra quando citei mudanças pessoais na primeira pergunta? Então, essa é uma das principais. Itajaí já não era mais uma cidade que me agradava, que me trazia boas energias. Eu queria fazer algo diferente, algo novo e a tranquilidade de praia de Itapema parecia me possibilitar isso. Sinceramente, ainda estou em fase de adaptação (mais longa do que eu imaginava), mas muito tem a ver com a questão de eu estar me organizando como profissional de eventos e artista. Chamo a primeira persona de Prates e a segunda de Ziembik (meus sobrenomes). Me agrada muito a paz da cidade, mas ao mesmo tempo me inquieta, pois eu sou do fervo, sou cosmopolita. Mesmo assim, tem me parecido uma boa opção. Para 2018, estou avaliando algumas possibilidades com relação a isso.
7 – Quais são os artistas e estilos musicais que estão mais forte no seu radar nesse momento? Após esse “boom” do techno que aconteceu nos últimos anos, para quais caminhos o estilo deve caminhar daqui pra frente?
Eu já era fã há muito tempo, mas esse ano venho desenvolvendo muito minha paixão pelo Jazz. Começou quando minha mãe me deu a discografia dela no meio de todos os discos tinha um com faixas da Lena Horne, Billie Holiday, Sarah Vaughn e Ella Fitzgerald. Depois disso, encontrei um acervo incrível do gênero, que inclui uns 80 anos de história, passando por Benny Carter, Miles Davis, até artistas que eu nunca tinha ouvido falar. Ao mesmo tempo, sou verdadeiro adorador do St Germain, músico francês que está bem incorporado ao mundo eletrônico e foi remixado por alguns produtores. Adoro a velocidade e improvisação que o estilo musical pode imprimir, coisa que eu procuro trazer pros meus sets. Como destaque do mundo eletrônico, enfatizo o Anton Pieete, Shcaa, S.A.M, além dos mais pesados Benjamin Damage, Etapp Kyle e Jeroen Search. Falando em techno, acho que muito deve-se ao gênero ser super versátil. Ele pode ser pesado, sujo, intenso, obscuro, clássico ou até big room. Esse “boom” do gênero, pra mim, não existe. Por ser algo muito completo, ele segue o dinamismo e ajuda e ditar o mercado, apenas isso. Acho que um bom palpite para onde o gênero vai tem a ver justamente com a musicalidade. Eu, quero trazer jazz pro techno. Outros artistas estão desenvolvendo trabalhos semelhantes, buscando suas referências musicais e incorporando ao mundo 4×4.
8 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa na sua vida?
A música é o que dá sentido a tudo o que eu faço. Quando pensei em desistir, ela não permitiu. Quando tive uma baita experiência, ela foi a responsável. Música é inspiração, é sentimento. É a intangibilidade mais próxima de ser tocada ou tocar.
A música conecta as pessoas!