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A música conecta

Iconic | Another Chance – Roger Sanchez

Se no episódio de hoje você mirou em curtir a brisa de um dos melhores hits dos anos 2000, você vai ganhar também uma análise muito mais profunda e que vai dar uma cutucadinha no seu âmago. É a Iconic, você sabe como a banda toca aqui. Não é linear, não é óbvio e é por isso que você veio.

E se eu te disser que Another Chance do Roger Sanchez voltou para nos relembrar sobre amor, empatia, responsabilidade afetiva e humanidade? Outch! É sério isso? Vou explicar. Aqui, temos um espaço que nos concede a oportunidade de imprimir leituras subjetivas, que vão além da tecnicidade de ser House ou Techno, pads, loops, filtros e etc. Claro, contar história é preciso, mas a beleza das coisas é a seguinte: o que está sendo dito no pano de fundo sobre essa criação emblemática e que a gente ainda não havia percebido? Tenho certeza que além de curtir a track, vocês ficarão reflexivos. Hoje cedo minha amiga, Laura Marcon, me fez revisitar o clipe da música e percebi que nunca tinha entendido a real mensagem. Mas tá, primeiro a história. 

Roger Sanchez é um renomado DJ americano que segue na ativa, mas teve décadas de uma carreira incessante, tocando regularmente em super-clubs e festivais pelo mundo e construindo uma carreira de muito respeito. Além de seus diversos pseudônimos, ele é um grande remixer, tendo repaginado faixas de Prince, Jamiroquai, Daft Punk e Michael Jackson. Nem vou me ater a isso, você pode consultar tudo aqui.

No começo dos anos 2000 uma centelha de inspiração pairou sobre a cabeça de muitos, movidos pelo frenesi da “nova era”. Foi o ano em que muitos hits nasceram. O artista também surfou nessa onda, dando um salto quântico em sua carreira, direto para o topo das paradas mundiais. Another Chance teve um efeito meteórico e ficou em primeiro lugar em muitos cantos do mundo em 2001. Uma fatia clássica do House, com um quê de melancolia, linhas suaves de Electro e uma mensagem necessária para aquele momento que, junto de sua bela melodia e letra, alcançou a atemporalidade. Sanchez recortou o vocal de I Won’t Hold You Back de Toto, de 1982, e o sample, fragmentado e distorcido, segue por sete minutos em um loop que clama por mais uma chance.

“Se eu tivesse outra chance esta noite, tentaria dizer a você que as coisas que tínhamos eram certas”. Ok, temos aqui uma alta dose de saudosismo e pesar por deixar passar uma oportunidade (e quantas vezes você e eu já deixamos passar, hein?). Mas, para não nos afogarmos, o criador coloca seus synths e uma bateria marcante para mudar o curso e dar um ar de otimismo à faixa. Como bom remixer que é,  manteve alguns toques instrumentais da original. É simples, porém incisivo. 

E quando você acha que a análise já deu uma leve incomodada e acabou, agora vem o clipe. Novamente citando os anos 2000, vivíamos um tempo em que lançar clipe era algo primordial porque era uma ótima estratégia para fazer seu feito prosperar (Alô, MTV!). Não que hoje não seja, mas são tempos diferentes, com tecnologias diferentes. O clipe produzido por Philippe Andre fala sobre uma menina com um coração muito grande – que é representado de maneira lúdica por um coração vermelho do tamanho dela – que acaba sendo julgada pela sociedade por ser assim, amorosa e empática. Ela busca por um amor, mas é como se fosse um alienígena em meio à multidão. Suas tentativas de sorrir para estranhos e causar bons sentimentos não dão certo e, por diversas vezes, ela é convidada a se retirar dos espaços. 

Após tantas rejeições, ela cansa e seu coração diminui. Um rapaz a percebe, percebe seu coração pequeno e ela conta que ele bem é maior, mas que isso, na verdade, é um problema. Ele sente-se seguro para chamá-la para sair e ela aceita. Ambos têm uma experiência boa, genuína, duas pessoas que querem estar juntas. Por conta disso, o coração dela sente-se seguro para voltar ao seu tamanho original. Ao se deparar com o real tamanho dele, o rapaz foge. Familiar? Pois é.

Agora, estou aqui pensando: anos 2000 e já se percebia um declínio geral da sociedade sobre empatia, sobre a troca de sentimentos e como pessoas assim não são valorizadas. Cá estamos e isso está mais latente. Precisamos de inteligência emocional em todos os cantos em um mundo frio, tecnológico, polarizado, e uma forte necessidade de ressignificação. Sorrir para estranhos não deveria ser considerado ruim, pelo contrário, promove bons sentimentos, como a cordialidade, algo muito bonito de nós humanos. Ser amoroso/amorosa e transparente deveria ser visto com bons olhos. Supostamente querer dar amor não deveria assustar pessoas, mas assusta e a gente foge. Se todos querem amar e ser amados, porque tanta resistência?

Reflexivo, não? Avisei que seria assim. Por isso, para fecharmos, te convido a assistir o clipe e tirar um momento de revisão pessoal e pensar como as suas relações, de modo geral, podem ser melhores. A mudança que você almeja deve começar em você, em mim e para quem mais estiver lendo isso. É simples, basta recomeçar, dar uma outra chance…

Paz, amor e até mais!

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