Nós amantes da boa música, estamos acostumados a contar com a musicalidade em grande parte do nosso dia. A música relaxa, desestressa, nos traz lembranças, nos faz dançar, e principalmente, nos conecta, como já diz o próprio lema da nossa revista. A música nos conecta não somente com outras pessoas que curtem o mesmo tipo de som, mas em especial, com nós mesmos. Em um mundo onde as tarefas do dia-dia tornam nossa rotina frenética, a música possui um papel de suma importância para o reequilíbrio das nossas emoções, fazendo com que nos tornemos mais presentes no aqui e no agora, por pelo menos alguns minutos.
Você sabia que a música pode ser um poderoso instrumento de cura? Se por acaso você já esteve deprê algum dia, e de repente, colocou uma música que você goste muito para tocar, já deve ter percebido que seu estado de espírito se transformou. Isso é apenas uma pequena amostra dos inúmeros benefícios que a música pode oferecer para o nosso íntimo. Hoje vamos destrinchar mais a fundo sobre esse poder mágico que a música possui de transformar nossas emoções, e até mesmo, curar alguns aspectos físicos e mentais do nosso corpo.
Para entender um pouco desse processo, é preciso analisar do que de fato a música é feita. A música nada mais é do que um conjunto de sons, organizados sobre os fundamentos de melodias, harmonias e rítmo. E quando falamos em som, falamos de vibração de onda. Pense em uma pedra jogada na água de um lago parado, que ao encostar na água, conseguimos ver diversas ondulações que vão se espalhando. O som possui esse comportamento, com a diferença de que ele vibra em frequências (Hertz), que apesar de não serem visíveis – como as frequências eletromagnéticas da luz que determinam as cores -, são sentidas não somente pelos nossos ouvidos, mas também, por todo nosso corpo.
Nossos corpos, assim como o lago do exemplo acima, é feito de água. Quando uma vibração sonora atinge a água, sua velocidade de propagação é quatro vezes maior do que em contato com o ar. Da mesma forma, a água na presença de uma determinada frequência sonora, pode se comportar de formas diferentes. Cientistas da Clemson University, nos EUA, realizaram um experimento com gotículas de água junto a um campo ultrassônico, e a partir da reprodução de diferentes frequências de som, as gotículas ganhavam formas diferentes, se modificando dentro de um determinado padrão. Quanto maior era a frequência entoada, mais agitada ficava a molécula de água até se desintegrar.
Podemos relacionar esse experimento para nossa vida prática, ao nos expormos a diferentes tipos de frequências sonoras. Como nosso corpo é 70% feito de água, é natural que boa parte dele reaja à exposição do som. Cada molécula absorve uma pequena quantidade de energia e, em seguida, passa a onda para a próxima molécula. O efeito em ressonância continua até que toda a energia das ondas seja absorvida. Quando as moléculas são atingidas por ondas sonoras próximas à sua frequência inerente, elas oscilarão ou ‘ressoarão’ fortemente.
E é a partir desse princípio, que o Sound Healing – cura através do som – se fundamenta. O conceito que vem ganhando cada vez mais a atenção da medicina integrativa dos últimos anos, é uma prática milenar que utiliza vibrações para relaxar a mente e o corpo. Terapeutas sonoros defendem que a técnica pode aliviar doenças como ansiedade e insônia, além de funcionar diminuindo a pressão sanguínea, melhorando a circulação e reduzindo a frequência respiratória. Os ruídos em frequências harmônicas, quando utilizados da forma certa, agem em nossos átomos, células, moléculas, tecidos e órgãos, promovendo saúde física, mental e energética.
A prática envolve o uso de determinados instrumentos sonoros que reproduzem uma forte relação com os sons da natureza e que emitem frequências sonoras específicas, como os cristais, taças tibetanas, flauta pan, harpa, kalimba, gongo chinês e tambores. O intuito é projetar sons harmoniosos para o paciente, em geral, reproduzindo algumas frequências consideradas “especiais” chamadas solfeggios, quais são: 396 Hz (Dó), 417 Hz (Ré), 528 Hz (Mi), 639 Hz (Fá), 741 Hz (Sol) e 852 Hz (Lá).
Para especialistas, a exposição do paciente à determinadas frequências de som pode fazer com que as ondas cerebrais se equiparem ao estado “theta”, um dos níveis do sono, agregando benefícios como controle da depressão, ansiedade, dor, melhoria na imunidade, aumento da oxigenação, redução de estresse e liberação de memórias. Na Europa, por exemplo, o sound healing é uma ferramenta de terapia integrativa em hospitais, ajudando na recuperação de pacientes.
Ekanta Jake, uma das pioneiras do Psytrance no Brasil e co-criadora do festival Universo Paralello , é uma artista que vem se especializando nos estudos do Sound Healing nesses últimos anos. Expandindo sua paixão pela música para além das pistas, desde sempre Ekanta procurou trazer vibrações elevadas e boas energias nos seu sets, buscando promover uma cura coletiva através de suas produções e seleções musicais: “O caminho que me levou a encontrar o Sound Healing, foi um chamado de que talvez seria o momento de fazer uma coisa mais específica e personalizada na mesma linguagem, mas com outra pegada vibracional.Depois de uma experiência na Índia numa sessão de SH senti o verdadeiro poder da terapia e resolvi me aprofundar nesse campo.” explica ela.
Absorvendo também as técnicas do Sound Healing para suas produções voltadas para as pistas de dança, Ekanta acredita que o DJ também possui um importante papel de transformação coletiva em suas apresentações musicais, especialmente ao incorporar ferramentas sonoras da prática do SH em suas narrativas. “Incorporo algumas ferramentas do SH para as minhas produções através de vocais, palavras e mensagens subliminares, percussões e algumas melodias que acredito que vão trazer alguma sensação verdadeira na pista…no meu último álbum Vozes, por exemplo, temos cantos de cura Yawanawás muito poderosos.”
Ekanta também comanda ao lado de Anaumy Mazzottini, um projeto de imersão em musicoterapia chamado New Healing Experience que visa promover uma completa transformação multissensorial e dimensional aos participantes: “Estaremos de volta com duas edições do projeto nos próximos dias: uma em São Paulo no dia 22 de outubro e outra em Curitiba no dia 29 . É uma vivência bem especial que inclui uma meditação de acesso aos registros akáshicos seguida da sessão de Sound Healing,mas só indo pra realmente sentir como é… vamos?”
Assim como Ekanta, Arjana Vrhovac Jonsson e Eric Jonsson – conhecidos pelo projeto Duc In Altum – também vêm se aprofundando no campo do Sound Healing, através do ATMA GAIA. O projeto, que se intensificou durante a pandemia, traz um foco voltado para as frequências curativas e vibrações elevadas que proporcionam um acesso pessoal interior. Através da música ambiente, a dupla vem apresentando um conteúdo consistente dentro do seu canal do Youtube trazendo criações musicais próprias que proporcionam um ambiente de relaxamento e harmonia, além também de trazer bate-papos semanais e entrevistas com outros artistas que também compartilham da proposta.
“Nosso flow criativo contém sons de natureza, vozes e sons das plantas, animais , chuva e vários sons que vêm da natureza. Gravamos esses sons com o gravador Tascam, nas praias de Boiçucanga no litoral paulista, quando visitamos nossos colegas VAntonio e André Torquato na residência deles na natureza. Combinamos estes sons com sintetizadores que normalmente usamos no nosso estúdio para produzir música da pista, como Roland Alfa Juno II e também utilizamos Elektron Digitone , Vermona Drum e Electron analog IV. Ultimamente usamos VCR rack virtual (um modular synth virtual ) na produção, obtendo ótimos resultados com ele. Em certos synths tanto virtuais como hardware é possível mudar a frequência do som e daí mudamos para 432 hz ou 317 hz ou 464 hz produzindo diferentes frequências no próprio sintetizador” explica Arjana sobre o flow criativo do projeto.
O mais interessante da prática do Sound Healing, é que a ferramenta não precisa ficar restrita aos moldes de terapia convencional, em um determinado local ou com determinados pacientes. É possível aplicar as ferramentas também dentro das pistas de dança, promovendo um bem estar coletivo para o público, ao mesmo tempo em que eles se divertem no dancefloor. “Acreditamos que é sempre possível trazer esse poder de cura do som para as pistas de dança, independente do estilo musical que o DJ/produtor apresenta. Especialmente se for formato de uma live PA, dá para fazer uma intro linda utilizando elementos de Sound Healing, igualmente nos DJ sets, ao incluir faixas que dão destaque para esses elementos” finaliza Arjana.
E aí? Ficou curioso para experimentar os benefícios dessa prática? Deixaremos aqui um vídeo bem interessante sobre o assunto, facilitado pelo musicoterapeuta Pierre Stocker, além de algumas sugestões apresentadas ao longo do texto para você começar a se aventurar na experiência do Sound Healing.
A música conecta.