Skip to content
A música conecta

Kommodo mostra que os sonhos podem ser uma rica fonte de inspiração em The Lighthouse, seu novo EP

Por Nicolle Prado em Trend 09.10.2023

O nosso inconsciente tem muita coisa a nos dizer, mas nem sempre é possível imergir dentro de si mesmo e encontrar tudo que há a ser expressado. Por isso, os sonhos, muitas vezes, exercem esse papel de trazer à tona o que ficou guardado lá no fundo da nossa mente. Durante o R.E.M, estágio do sono que os sonhos acontecem, as áreas cerebrais organizam a memória, tornando-a duradoura e aumentam a quantidade de experiências que o cérebro armazena; é neste momento que as experiências vividas no dia ou as memórias antigas se entrelaçam e criam os sonhos, essas história que nem sempre tem sentido. Mas, às vezes, eles têm muito a dizer. 

Por essa breve explicação da complexidade dos sonhos e do estado R.E.M é possível perceber que dar atenção ao que o nosso inconsciente comunica ali pode ser enriquecedor, ou até melhor, inspirador. Momentos, histórias, detalhes e pessoas que você não lembrava ou nem mesmo percebeu retornam ali e podem agregar ao seu dia seguinte. Deste assunto, Kommodo entende bem, o artista mineiro não só percebeu a riqueza das referências que podia retirar de seus sonhos, como colocou a mão na massa e as transformou em música. 

Natural de Belo Horizonte, Rivadávia Coura, ou melhor Kommodo, já possui uma trajetória longa na música eletrônica, iniciando este jornada ainda em sua terra natal, através dos afterhours, que o inspiraram a criar o seu próprio, o Day After. Posteriormente, ele se mudou para a Rússia, momento que o trouxe a vontade de se aventurar na produção musical e na discotecagem nos clubes europeus. Tempos depois, de volta ao Brasil, mais especificamente em Florianópolis, o artista iniciou seu projeto como Kommodo, voltado às atmosferas melódicas do Techno e do Progressive House. 

+++ Who? Kommodo

De lá para cá, Kommodo construiu uma carreira respeitável, com lançamentos por selos importantes como Warung Recordings, Traum, ICONYC, Movement, Awen, Prototype e mais, passagem por grandes festivais e clubes como o Universo Paralello e GreenValley, membro do casting da espanhola Awen, além de ser apontado como um dos principais e mais relevantes artistas do Melodic Techno e Progressive House do Brasil pelo portal Progressive Astronaut. Agora, em nova fase, o artista tem explorado uma sonoridade mais voltada ao breakbeat e vem se destacando. 

E, é exatamente sobre este momento de sua carreira que nos aprofundamos neste texto, já que sua principal inspiração tem sido os sonhos. As referências começaram em seu EP pela Movement, que saiu em março deste ano e, inclusive, alcançou o Top 17 do Beatport, trazendo a ideia de cada track representar um sonho do artista. Agora, com o lançamento de mais um EP, The Lighthouse, pela Timeless Moment, ele dá continuidade a proposta, a elevando ainda mais, a fim de compor o projeto R.E.M, encabeçado pela música tema Rapid Eye Movement, que se apresenta neste lançamento. 

“O nosso cérebro tem uma capacidade generativa que é alimentada pelas nossas vivências. Certa vez fiz uma visita ao Farol de Santa Marta, pouco tempo depois tive um sonho com aquela paisagem, porém de certa forma subvertida pelo meu subconsciente. Um lugar mágico e surrealista que com certeza teria sido inspirado naquela paisagem, mas que não existia no mundo real. Já tive outros sonhos com lugares fantásticos que com certeza não devem habitar o nosso plano, mas que foram bastante reais naquele momento. Acredito que a música tem esse poder de nos transportar para outros lugares e projetar cenários em nossa mente, basta fechar os olhos, assim como nos sonhos”, explica o artista.

Para dar vida a esta ideia, o artista apresenta três faixas, que convidam o ouvinte a embarcar em um reino encantador e fantasioso dos sonhos. A jornada começa com a sublime I Know, que traz arranjos hipnóticos que levam o ouvinte a imergir em suas paisagens futuristas, guiadas pelo vocal impactante de Felipe Abbas. Entre synths nostálgicos, ritmos acelerados e uma atmosfera imersiva, profundas emoções vêm à tona. Na sequência, The Lighthouse chega trazendo beats bem orquestrados em uma melodia progressiva, pensada especialmente para as pistas de dança. 

“Em The Lighthouse eu quis evocar essa paisagem surrealista através dos synths e elementos da track, o lead principal tem uma melodia marcante e o seu timbre é inspirado na sirene de um farol que guia os navegantes em um dia de tempestade, ele é como um feixe de luz e esperança para quem se encontra perdido nas águas escuras do subconsciente. I Know inicialmente seria uma faixa tradicional na batida 4×4 e confesso que apesar de estar lançada apenas agora, ela foi a minha primeira track com a batida quebrada. Eu enviei a música para o Felipe Abbas que me retornou com esse belo vocal e uma letra que se encaixava no tema que eu já estava em mente. Foi aí que eu tive a ideia de trocar o beat e vi que tinha funcionado muito bem”, compartilha.

Mas, indiscutivelmente, o ponto alto do lançamento é alcançado com Rapid Eye Movement, que segue a linha futurista da abertura, mas a combinar com groove em estilo breakbeat, vocal cativante e uma harmonia dramática, que teletransporta para um filme de ficção científica. A respeito do processo criativo da faixa, Kommodo explica: 

“Quando criei essa música, estava lendo diversos artigos sobre o tema dos sonhos. Embora não trate especificamente de um sonho em si, ela busca capturar o estágio REM, caracterizado por uma intensa atividade cerebral e paralisia muscular. O lead central da faixa é acentuado por um efeito de “beat repeat,” proporcionando uma vibração única à melodia. Além disso, outros sons conferem um toque futurista à composição. Há também um elemento secundário que nos lembra as caixinhas de música usadas para embalar o sono das crianças. No entanto, ele carrega consigo uma melodia sombria, como se fosse uma canção de ninar para as máquinas. O vocal entra como um guia para lembrar que no meio de tantas máquinas e tecnologias ainda somos seres humanos”.

The Lighthouse está disponível no Beatport e Spotify.

Conecte-se com Kommodo: Beatport | Instagram | SoundCloud 

A música conecta.

A MÚSICA CONECTA 2012 2025