Francesco Farfa carrega na bagagem quase 40 anos de uma carreira que começou em 1985, quando a música eletrônica ainda engatinhava na Itália. Nascido na Toscana, o DJ desenvolveu ao longo das décadas uma abordagem que desafia qualquer tentativa de classificação simples. Seus sets são experiências que podem transformar completamente a percepção de uma música.
No dia 4 de outubro, São Paulo finalmente terá a chance de conhecer de perto esse trabalho. Francesco Farfa faz sua estreia na capital paulista em uma apresentação especial na Mixordia, esta edição em parceria com a Nova Era, na Vila Aragon, localizado no Butantã.
Desde os anos 90, Farfa se estabeleceu como uma figura central na cena clubber italiana, especialmente durante o que muitos consideram a era de ouro do movimento no país. Sua técnica evoluiu do vinil puro para uma fusão entre analógico e digital, sempre mantendo uma identidade artística que poucos conseguem replicar.
Para entender por que Francesco Farfa é considerado um dos grandes nomes da música eletrônica italiana — e por que sua estreia em São Paulo é tão esperada — é preciso mergulhar nas camadas de sua identidade artística.
Este é o Raio X do Alataj.
Abordagem híbrida
Francesco Farfa começou sua jornada em 1985, quando a música eletrônica ainda dava seus primeiros passos na Itália. Desde os anos 90, ele se estabeleceu como uma figura central na cena clubber italiana, período considerado a “era de ouro” do movimento no país. Sua formação aconteceu inteiramente no vinil, numa época em que a técnica de mixagem era uma arte que exigia anos de dedicação para ser dominada.
Essa base sólida no analógico moldou sua identidade como DJ. Farfa desenvolveu metodologias e fusões experimentais que se tornaram sua marca registrada. Mesmo com a evolução tecnológica, ele nunca abandonou completamente o vinil, criando uma abordagem híbrida que combina o melhor dos dois mundos: a alma do analógico com as possibilidades do digital.
Técnica e visão artística
Farfa tem uma forma muito particular de trabalhar os discos. Em vez de apenas tocá-los em sequência, ele os utiliza como matéria-prima para construções sonoras autorais. Pode usar apenas uma parte de uma faixa, misturar elementos de gêneros completamente diferentes ou estender transições por longos períodos até criar algo totalmente novo.
Essa abordagem exige técnica apurada e uma compreensão profunda da estrutura musical e do impacto emocional de cada som, criando fusões que surpreendem e envolvem o público de forma hipnótica. “Não é sempre o disco que faz a diferença, mas a forma como você o faz soar”.
Contador de histórias musicais
Farfa se descreve como um “contador de histórias musicais hipnótico”, e essa definição reflete perfeitamente sua essência artística. Seus sets conduzem o público através de diferentes estados emocionais, criando o que ele chama de “som circular” — uma experiência que toca tanto o corpo quanto a mente.
Essa abordagem exige uma sensibilidade especial para a energia da pista. Farfa está sempre atento às reações do público. Seus sets podem começar em territórios contemplativos e evoluir para momentos de êxtase coletivo, sempre mantendo uma coerência interna que só os grandes mestres conseguem alcançar.
Além das tendências, mas não alheio a elas
Uma das características mais marcantes de Francesco Farfa é sua relação inteligente com as tendências musicais. “Minha missão está além das tendências — não as ignoro, mas as processo”, explica. Essa filosofia o manteve relevante por quase quatro décadas, adaptando-se às mudanças sem perder sua identidade.
Farfa não é um purista que rejeita o novo nem alguém que segue qualquer moda. Ele filtra as tendências através de sua visão artística, incorporando elementos que fazem sentido em sua narrativa e descartando o que considera superficial. Essa curadoria inteligente é o que permite que seus sets soem sempre contemporâneos, mas longe dos clichês.
Estreia em São Paulo
A vinda de Francesco Farfa ao Brasil representa o encontro entre duas culturas que sempre tiveram uma relação especial com a música eletrônica. A escolha da Mixordia para sua estreia paulistana faz todo sentido, já que o evento sempre priorizou a curadoria de qualidade sobre o apelo comercial.
A apresentação no dia 4 de outubro, na Vila Aragon, assinada juntamente com a Nova Era, promete ser um momento especial para o público do coletivo. Farfa trará toda sua experiência acumulada em quase 40 anos de carreira, oferecendo uma masterclass de como a música eletrônica pode ser arte, técnica e emoção ao mesmo tempo.