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AWC Preview | O futuro dos Clubs

Porões escuros e esfumaçados. Galpões, igrejas ou fábricas abandonadas. Praias com o sol nascendo ou se pondo como pano de fundo. Nos mais variados formatos e distintos cenários, as pistas de dança ocupam um espaço importante na história dos movimentos de cultura urbana contemporânea. Mas o processo de transformação da então trincheira da contracultura em atual destino turístico foi cheio de altos e baixos e teve um protagonista: os clubs.

As primeiras reuniões de pessoas ao redor de um seletor de música foram durante a Segunda Guerra Mundial. Neste período que a expressão Disc Jockey também surgiu, e até o DJ encontrar sua casa numa cabine de club foi um pulo. 

Não tão rápida e nada fácil, por outro lado, foi a aceitação dos setores mais conservadores da sociedade à combinação: o espaço onde DJs embalavam pessoas ao ritmo de Disco, House e Techno foi forjado por grupos então marginalizados que ali encontravam um dos poucos oásis de liberdade. Sim, clubs nasceram e são espaços fundamentalmente políticos. Não se engane se hoje alguns deles parecem rincões feitos sob medida pra turistas gastarem dinheiro. A essência deles é de um local seguro, inclusivo e diverso. Como tal, esteve à frente de muitas transformações no comportamento de várias gerações, sendo um verdadeiro camaleão que se adapta constantemente às dinâmicas sociais.

Talvez exatamente por isso que nos últimos anos sua potência se espalhou além das fronteiras das próprias paredes. Eventos maiores (não tão grandes quanto festivais), chill-outs, after-hours e festas em geral (algumas vezes até em casa) herdaram dos clubs muitas características e emulam sua arquitetura, decoração e demais elementos. Já as festas de rua carregam o mesmo espírito revolucionário com ainda mais vigor e têm um papel fundamental num passado recente, ganhando força por serem muitas vezes ainda mais livres e inclusivas que casas noturnas. Muito se discute, especialmente no Brasil, sobre a prevalência delas sobre os lugares estabelecidos.

Estariam, então, os clubs do futuro sob risco? Improvável. Uma das máximas que rege a temporalidade dos fenômenos sociais é o ciclo. Tudo que começa e se desenvolve aparentemente termina, para imediatamente depois (re)surgir renovado, num processo de assimilação contínuo. Término e recomeço muitas vezes se diluem em episódios nos quais é difícil discernir um do outro. A multidão irascível que queimou milhares de discos de vinil em 1979 durante um jogo de beisebol em Chicago decretando o fim da Disco Music (e de tudo que ela representava) certamente sequer imaginava que a menos de 10km dali a House Music já pulsava forte no Warehouse Club. Menos de uma década depois, ambas estavam juntas provocando uma verdadeira revolução nos costumes de Manchester e Ibiza.

Aqui reside um dos pontos fundamentais da força das casas noturnas: seu papel comunitário. Com a possibilidade de uma agenda semanal, onde artistas residentes e labels se revezam explorando a curadoria, elas são responsáveis pela construção, educação e evolução do público e também dos artistas. DJs e produtores que criam uma relação especial com audiências específicas ganham cancha e segurança, experimentando e inovando com mais facilidade. O público pode ficar mais fiel, exigente ou até mesmo criativo e se aventurar por outras praias, criando novas festas ou até mesmo novos clubs. Além disso tudo, espaços tradicionais passam a integrar um saudável ecossistema da noite das cidades, compondo um patrimônio imaterial poderoso.

+++ AWC Preview | O Futuro dos Estilos Musicais

Hoje estas mesmas comunidades estão sendo construídas no espaço virtual – o que parece um caminho sem volta e cheio de novas possibilidades. Games, realidade virtual, transmissões ao vivo: uma boa pista hoje pode estar em diferentes locais, e muitos já entenderam a mensagem de que o conceito de espaço se transformou rapidamente. Não são poucos os exemplos de casas “abrindo filiais” em pleno Fortnite e DJs como Solomun e Dixon já fizeram gigs clubes dentro do jogo GTA, onde cada jogador pode inclusive abrir seu próprio estabelecimento noturno. 

A experiência que se vive numa pista há tempos é sinestésica: som, imagens e luzes se misturam com o peso do grave ou o arrepio das melodias criando sentimentos intensos e memórias marcantes. O ambiente virtual pode não ter esta profundidade, mas flerta com outras particularidades e acaba por reforçar o valor do material. 

Outro ponto que pode pesar a favor dos clubs num futuro próximo é a saudade (ou a falta, por parte das gerações ainda mais jovens) de uma experiência realmente imersiva. Se hoje e por um bom tempo os espaços a céu aberto ou com amplas áreas externas serão aliados importantes no combate à pandemia, não é difícil imaginar que a falta de locais fechados criará um desejo por pistas intimistas. Os inferninhos certamente serão destinos concorridos quando as restrições a ambientes fechados acabarem.

Quer saber ainda mais sobre o que o futuro reserva para os Clubs no futuro? Acompanhe os paineis, webinars e artigos do Alataj Web Conference. A conferência acontece de 20 a 24 de setembro, com inscrições já abertas e gratuitas.

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