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A música conecta

O jeito argentino de ser Deejay

Por Alan Medeiros em Artigos 16.10.2025

A cena eletrônica argentina sempre ocupou um lugar de destaque no mapa latino-americano. Com raízes que remontam aos anos 90, uma cultura de clubs fortíssimos e um público intensamente apaixonado, o país consolidou sua identidade como um dos pólos mais influentes da região. 

Por lá, ser DJ vai muito além de selecionar boas faixas. Trata-se de uma filosofia que combina responsabilidade, sensibilidade coletiva e domínio técnico, uma arte moldada pela escuta atenta da pista e pela conexão genuína com o público. O documentário Movida Electrónica é um retrato primoroso das origens desta cena e apresenta uma visão abrangente sobre a evolução da música eletrônica e a cultura DJ na Argentina. Compreender o filme representa o entendimento que há uma forma particular no ato de ser DJ por lá e esta visão que se encontra nos parágrafos seguintes. 

Muitos DJs locais reconhecido s internacionalmente começaram cedo, em contextos sociais como festas de família e encontros entre amigos, onde a regra é clara: a pista não pode parar. Essa lição inicial molda toda a trajetória profissional. Observar os corpos em movimento e reagir à mínima oscilação de energia se torna uma espécie de reflexo e o bom DJ é justamente aquele que sabe captar essa resposta em tempo real.

Essa conexão é tratada quase como uma forma de comunhão. Tocar não é apenas apresentar um conjunto de músicas, mas entrar em sintonia com a esfera mental da pista. Um DJ precisa ser capaz de conduzir emocionalmente a noite: hipnotizar, energizar, acalmar. A atuação se constrói como um jogo sensível entre dois lados — quem toca e quem dança — em que a intenção é criar reação em cadeia, como pequenas ondas que se ampliam progressivamente.

Para alcançar esse efeito, é preciso equilibrar arte e técnica. A maior parte da atuação está na escolha musical, mas o domínio técnico é indispensável para garantir a fluidez. O cuidado com o som envolve desde os equipamentos — toca-discos, agulhas, cabos e mixer — até a percepção sonora do público. O objetivo é proporcionar uma experiência contínua e sem ruídos, onde nada “quebra o clima”.

Ter um som próprio também é sinal de maturidade. O DJ que se destaca é aquele que desenvolve identidade musical, que transmite uma mensagem clara e evita depender apenas de faixas “efetivas”. Escolher músicas que tenham estilo, personalidade e impacto é o que constrói um repertório autoral. Ainda assim, há um equilíbrio delicado: um set feito apenas para agradar a si mesmo pode ser tecnicamente brilhante, mas desconectado. A comunicação com o público continua sendo um pilar essencial.

Nesse contexto, surge a tensão entre entreter e educar. Há quem veja o papel do DJ como alguém que apenas faz a pista dançar. Mas a visão mais refinada reconhece que o DJ é, antes de tudo, alguém que entende de música e pode usar essa posição para apresentar novos sons ao público. Não se trata de impor cultura, mas de criar um caminho gradual, mesclando repertório acessível com propostas mais sofisticadas, até que o ouvinte esteja pronto para absorver algo novo. O desafio é encontrar esse ponto de equilíbrio entre pista cheia e repertório de qualidade.

Por fim, a energia do público argentino é frequentemente destacada como algo único. Buenos Aires, em especial, é vista como uma das cenas mais intensas do mundo, onde a relação com a música tem a mesma paixão e adrenalina que o país reserva ao futebol. Essa entrega emocional fez da cidade um destino especial para artistas do mundo inteiro e também moldou a identidade do DJ local, que compreende a música como algo vital: alma, vida e combustível para o movimento, que deve sempre seguir em frente.

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