No próximo dia 6 de dezembro, a Beehive completa 19 anos de uma trajetória que foi muito além dos limites de uma festa para se tornar um verdadeiro fenômeno cultural. A celebração traz como headliners East End Dubs, indicado ao DJ Awards Ibiza como melhor artista de Tech House de 2025, e Ratier, ícone nacional que marca seu retorno após três anos, em uma noite que simboliza tanto a continuidade quanto a renovação de um projeto que, desde 2006, transformou Passo Fundo em referência obrigatória da música eletrônica brasileira.

A história da Beehive é, fundamentalmente, a história da construção de uma comunidade. Desde as primeiras noites, ficou evidente que não seria apenas mais uma festa, afinal, os próprios idealizadores já imaginavam o local como um ponto de encontro para pessoas que compartilhavam da mesma paixão. “A motivação original e principal sempre foi a paixão pela música eletrônica”, contam os sócios. “Em 2006 a Beehive nasceu preenchendo uma lacuna na cidade de Passo Fundo, surgindo como um ponto de encontro para pessoas que começavam a desenvolver um estilo de vida ligado à música eletrônica.”
Na época, alguns movimentos maiores aconteciam em cidades próximas como Carazinho ou mais distantes como Porto Alegre, mas Passo Fundo ainda carecia de uma referência sólida. No ano de 2008, realizaram uma festa que até hoje é lembrada por muitos que estavam presentes: a vinda de Deadmau5 na sua primeira tour no Brasil, também a primeira grande atração internacional do club. Uma noite emblemática que, inclusive, conta com o set gravado do artista no Soundcloud.
Mas o momento decisivo chegou mesmo em março de 2009, quando a Beehive se mudou para um silo desativado da cidade, considerado patrimônio histórico-cultural de Passo Fundo. Essa locação, que abrigou o club por 14 anos até dezembro de 2022, foi fundamental para colocar a cidade definitivamente no circuito nacional. A arquitetura industrial da antiga casa ajudou a construir a estética característica da Beehive e simbolizou a capacidade de transformar espaços abandonados em centros culturais.
As temporadas entre 2012 e 2014 consolidaram a Beehive como um dos principais clubs do Brasil, apresentando grandes artistas como Marco Carola, Lee Foss, Seth Troxler, Magda, Damian Lazarus, Mano Le Tough e HOSH. Em 2015, o reconhecimento veio oficialmente: a Beehive foi eleita o Melhor Club Off-Circuit do Brasil pelo antigo Prêmio RMC, consolidando-se no mercado nacional. No mesmo ano, o Governo Municipal de Passo Fundo concedeu uma honraria ao club por levar o nome da cidade além das fronteiras territoriais, reconhecimento que ilustra como a música eletrônica havia se tornado parte da identidade cultural local.
Ao longo dos anos, a Beehive foi um espaço de educação musical, ajudou na formação de novos artistas e serviu como fonte de inspiração para a criação de outros coletivos e núcleos, impactando diretamente na criação e amadurecimento da cena em Passo Fundo e do Rio Grande do Sul. Mais do que isso, promoveu uma enorme mudança comportamental. “A Beehive quebrou barreiras e se tornou um ponto de livre expressão, em uma época onde a cidade ainda vivia um momento mais conservador e de grande distinção social na vida noturna”, relatam os sócios. O club, então, se estabeleceu como um espaço de inclusão, respeito e acolhimento, atraindo pessoas de diferentes cidades e regiões do estado e fora dele, transformando-o em um ponto de referência turística e cultural.
A formação de uma comunidade fiel (carinhosamente chamada de “abelhas” ou “Beelovers”) representa talvez o maior legado da Beehive. “A diversidade da programação ao longo dos anos ajudou a construir um público muito aberto a novidades, mas ao mesmo tempo exigente”, observam. “Com o tempo, esse público passou a se reconhecer como parte de algo maior, formando uma verdadeira comunidade em torno da marca.” Um momento que demonstra essa conexão foi o último evento realizado no antigo club, onde todos os ingressos se esgotaram em 30 minutos, com um mês de antecedência, além de muitas pessoas chorando e se emocionando até a última música do evento. “Foi um sentimento muito sincero e puro, de agradecimento por tudo que foi vivido naquele local”, lembram.
Agora, estabelecida no Frigô, um complexo cultural de 10.000 m² que renasce de um antigo frigorífico dos anos 1960, a Beehive se prepara para completar duas décadas em 2026. “Será um ano de novidades, com novas experiências, novos formatos, integrando música a outras formas de expressão artística”, adiantam os sócios. Antes, porém, a festa de 19 anos simboliza essa continuidade de evolução e transformação do club, mas sem nunca perder a essência lá do início.
O headliner East End Dubs chega em um momento de grande reconhecimento global, enquanto o retorno de Ratier representa, para eles, a reabertura de um capítulo essencial da história do local. Completam o lineup os talentos locais Dbeat e Deon, já bastante conhecidos pelo público gaúcho, além de um DJ vencedor do contest que a Beehive está promovendo. “Fechar essa temporada incrível comemorando 19 anos junto com essa comunidade linda que formamos é um verdadeiro presente”.
No dia 6 de dezembro, a Colmeia mais uma vez se transformará no que sempre foi: um organismo vivo feito de muitas partes, onde cada abelha contribui para algo maior. Uma noite que promete celebrar o passado e, ao mesmo tempo, plantar as sementes do futuro que se desenha para os próximos 20 anos.
