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A música conecta

O que querem e o que importa

Por Alan Medeiros em Carta da Redação 12.07.2024

Segunda-feira, 8 horas da manhã, você rola o feed do Instagram e parece que todas as pessoas estavam no mesmo lugar, nas mesmas festas no fim de semana. As músicas compartilhadas são as mesmas, os drops iguais e os memes previsíveis. Todo mundo tá postando a mesma coisa? 

Certamente não, mas com certeza, enquanto massa, estamos viciados nos mesmos assuntos. Gerar conteúdo sobre música eletrônica no Brasil e no mundo deixou de ser uma tarefa restrita à imprensa ou a influencers já há algum tempo. Mas especialmente desde o retorno dos eventos no pós-pandemia, o público entusiasta em geral passou a desempenhar um papel muito amplo de formador e influenciador de opinião, ainda mais em tempos de hiper compartilhamento e cobertura real time. 

Hoje existe um bloco, formado por plataformas de mídia, páginas, canais e entusiastas, que verdadeiramente e coletivamente, ditam o ritmo do que é assunto de fato na cena de música eletrônica. Claro que nem tudo se resume a isso e cada plataforma também tem suas individualidades, preferências e um toque particular que faz a diferença na forma como cada grade de conteúdo é consumido. Mas numa análise mais central, é preocupante como os assuntos e abordagens criativas se repetem. 

É importante analisar também que o controle não está somente em nossas mãos, muito longe disso. Tudo que o algoritmo das plataformas digitais deseja é gerar identificação e entretenimento para que você permaneça dentro das plataformas, scrollando. Para isso, ele entrega uma combinação de conteúdo que é considerada funcional pelos seus parâmetros, conteúdos que de uma maneira geral tem maior pretensão a ser encaminhado via DMs e gerar engajamento. Uma combinação bastante adversa para artistas e assuntos que buscam espaço, mas não estão no hype e nem possuem (ainda) um forte apelo midiático. 

Não dá pra cobrar um olhar mais atento e diverso para essa fatia do bloco que é formada pelo público e por entusiastas party people que estão nos eventos por diversão e são admiradores da cultura que permeia a música eletrônica. Mas se os assuntos se repetem e o algoritmo não ajuda, quem pode influenciar coisas novas e interessantes, também precisa fazer a sua parte neste processo. Em tempos de inteligência artificial, existe uma preocupação real pela pastelização da produção de conteúdo. Se todos olham para os mesmos assuntos sem impor um toque pessoal e muitas vezes criando roteiros e legendas com ajuda do Chat GPT, quem realmente está formatando opinião sobre a cena?

Formar opinião, inclusive, não é apenas sobre essa uma estética influencer que muito se busca hoje em dia na sociedade em geral. Apresentar novos artistas, novos movimentos, promover um trabalho de base e com senso crítico, é fundamental para que possamos caminhar em lugares mais interessantes do ponto de vista criativo e também em torno de quem, como e quando colocamos como protagonistas de uma comunidade tão importante como é a nossa. Se não pensarmos, planejarmos e criarmos o que importa, estaremos todos juntos repetindo os comportamentos e conteúdos que os algoritmos e padrões de inteligência artificial ‘pensaram’ para a gente.

A música conecta. 

A MÚSICA CONECTA 2012 2024