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A música conecta

Alataj entrevista X-Press 2

Por Isabela Junqueira em Entrevistas 18.10.2023

No encontro dinâmico entre a música eletrônica e a cultura das pistas de dança, o X-Press 2 emerge como uma força viva e inovadora que deixou sua marca perene na música de pista. Composto por Darren Rock e Darren House (DJ Rocky e Diesel) atualmente, o X-Press 2 rapidamente conquistou seu lugar de destaque. Com uma trajetória musical marcada por uma fusão única de elementos do house, techno e uma grandeza de influências sonoras que vão do disco ao pop, hip-hop e rock, o projeto britânico não apenas redefiniu os limites da música eletrônica, mas também exerceu uma influência profunda e duradoura em uma geração de ouvintes e produtores.

Desde seu surgimento nos anos 90, o X-Press 2 se destacou pela habilidade absoluta ao costurar padrões rítmicos com melodias envolventes, criando uma experiência musical que transcendeu as fronteiras da pista de dança. A exploração incessante de novos sons e texturas, aliada à capacidade de atravessar as décadas e fases da música eletrônica na vanguarda foi fundamental para consolidação pioneira do projeto. Inclusive a influência da dupla não se limita apenas à esfera da música de pista, uma vez que suas colaborações, produções inovadoras e habilidades de mixagem cruzam os limites do nicho.

O legado do X-Press 2 não apenas persiste, mas continua a ser uma fonte inesgotável de inspiração para a música alternativa de pista. Perpetuando sua importância como uma das forças mais distintas e duradouras da cena eletrônica, na última sexta-feira, dia 13 de outubro, o duo lançou seu terceiro álbum, Thee, pela Acid Jazz. Em celebração ao momento, tivemos a oportunidade de entrevistá-los, confira:

Alataj: Olá Rocky e Diesel! Sejam bem vindos ao Alataj, é um prazer imenso conversar com vocês. Antes mesmo do X-Press 2, ali pelos anos 80, vocês dois já tocavam juntos, certo? Acho que nada mais justo do que começar nosso papo perguntando como vocês se conheceram e como rolou esse match musical que segue frutífero até os dias atuais.

X-Press 2 (Darren Rock e Darren House [DJ Rocky e Diesel]): Olá Isabela e Alataj. Nos conhecemos quando trabalhávamos no mesmo lugar no oeste de Londres. Era uma fábrica da EMI na cidade de onde ambos viemos. O local era enorme e acho que talvez fomos apresentados na cantina dos funcionários. Descobrimos que tínhamos gostos musicais semelhantes e começamos a sair juntos e a ir a clubes e festas. Nós dois éramos DJs separados naquela época, tocando soul, funk, jazz, grooves raros e hip hop.

Tocamos juntos pela primeira vez em 1988 como Rocky e Diesel.

Alguns anos depois, mais precisamente em 1992, surge o X-Press 2 como um trio, ainda com Ashley Beedle como integrante. Nesses bons anos de carreira vocês lançaram incontáveis hinos, fizeram apresentações icônicas, mas entre todos esses feitos qual foi o que mais os deixou êxtase — com aquele sentimento de “meu Deus, olha o que fizemos!”?

Acho que naquele primeiro momento a coisa de ver nossa música sendo tocada por DJs diferentes em cenas diferentes.

Me lembro de Muzik Xpress sendo tocado por Andy Weatherall, DJ Harvey, Tony Humphries e Junior Vasquez. Ver a resposta que nossa música estava recebendo nos surpreendeu!

São 30 anos de carreira e vocês conservaram e ampliaram essa química musical de forma invejável. Como vocês lidam com as influências externas e contemporâneas em uma indústria tão voraz como a da música eletrônica? 

Nós apenas fazemos o que sempre fizemos, eu acho. Sim, somos influenciados pelo que ouvimos no passado, mas também gostamos de nos manter informados sobre o que está acontecendo agora.

Passeando pela discografia de vocês, eu notei que em antecipação ao primeiro álbum de vocês, o The House of X-Press 2, vocês lançaram dois EPs com releituras: um com remixes espanhóis e outro com remixes brasileiros. Já é sabido que vocês têm uma relação bem especial com a Espanha, especialmente Ibiza, mas como é a relação de vocês com o Brasil?

Sempre tivemos um carinho muito grande pela música brasileira. Quando começamos a frequentar casas noturnas, ouvíamos DJs como Bob Jones, Chris Bangs e Gilles Peterson tocando muitas músicas brasileiras. Para nós, foi aí que começou o caso de amor. 

Avançando para quando começamos a criar música, o som e a vibração brasileira costumavam ser uma influência no que estávamos fazendo, especialmente ritmicamente! Me lembro da primeira vez que tocamos no Brasil, no início dos anos 2000. Para Ashley, Diesel e eu, foi como ir a um lugar espiritual para nós. Cara, que saudade do Brasil!!! 😫

Há algum (ou alguns) artista(s) em particular que chama a atenção de vocês?

Para mim sempre foi sobre a vibração e a sensação dos ritmos e sons. Mas estou sempre conferindo as produções do Gui Boratto.

Uma característica que realmente chama atenção na discografia de vocês é a quantidade de gêneros e ritmos que ela abriga. Particularmente acho que uma das características mais consistentes do trabalho de vocês é justamente essa habilidade coesa, independente de rótulos. Mas como vocês lidam com isso em estúdio? O ponto de partida de uma produção é sempre orgânico ou vocês partem de ideias já concebidas?

Isso varia para ser sincero. Algumas vezes um de nós terá uma ideia muito forte do que vamos fazer. Talvez uma linha de baixo, um sample, um riff ou alguma ideia vocal. Outras vezes, apenas trocaremos ideias em um estúdio fúnebre até que algo comece a funcionar e tenhamos uma peça coerente para construir.

Sempre amamos e fomos influenciados por uma infinidade de estilos e sons diferentes. Pessoalmente, foi isso que me atraiu para ser DJ naquela época. Eu adorei aquele espírito do hip hop inicial de tocar qualquer coisa, desde que tivesse algo especial!

E falando em produção, Thee, o novo álbum do projeto já está nas praças. Li que algumas faixas já estavam prontas há cerca de 10 anos… porque esperar tanto tempo para lançar essas faixas e o que vocês consideram na concepção de um álbum?

Começamos a fazer algumas faixas de Thee por volta de 2012/13. Tínhamos praticamente um álbum completo com músicas, então nossa antiga gravadora decidiu não prosseguir com isso e nos retirou de sua lista. A coisa toda foi muito triste e desanimadora. Eu meio que desisti e encontrei um emprego regular. Fiquei lá até a pandemia.

O bloqueio me fez fazer um balanço e perceber o que eu realmente queria fazer. Então pedi demissão e voltamos a trabalhar no estúdio!

Thee foi lançado não só em formato digital, mas também em vinil e CD. Embora não faltem dados sobre a crescente contínua do mercado de vinil, qual a opinião de vocês sobre seguir lançado em formato físico? 

Sempre fomos colecionadores de discos, mesmo antes do deejaying e da produção, então o vinil foi e sempre será importante para nós. Ter algo tangível para segurar é importante para nós. Toda a arte/embalagem simplesmente não parece a mesma em um MP3/WAV.

Desde o ano passado vocês estão em um relacionamento bem frutífero com a Acid Jazz e algo perceptível é que vocês valorizam muito a relação com os selos que lançam os seus trabalhos. Como vocês interpretam essa relação?

Assinar com a Acid Jazz foi um grande passo para nós. Somos grandes fãs da gravadora e conhecemos os caras há anos.

É sempre uma alegria quando você está livre para ser criativo e fazer a sua coisa. É por isso que o relacionamento funciona. 

O status de pioneiro e de ter “chegado lá” pode acabar virando um conforto para os artistas, mas claramente não é o caso de vocês. Se conservar na vanguarda do underground eletrônico sempre foi um objetivo claro para vocês?

Absolutamente não. Sempre fizemos música para clubs. Talvez tivéssemos lugares específicos em mente quando fizéssemos certas músicas. Acho que o fato de essas músicas, às vezes, irem além da pista de dança é um bônus.

+++ Iconic | X-Press 2 feat. David Byrne – Lazy [Skint Records]

Veja Lazy… nós apenas decidimos fazer uma faixa de deep house com David Byrne cantando nela, que então cruzou essa linha e se tornou um disco pop. Não pretendíamos ou planejávamos que isso acontecesse, mas o fato é que aconteceu e foi uma coisa boa.

Caminhando para o fim, uma pergunta mais pessoal. O que vocês costumam ouvir fora do espectro eletrônico?

Ah, meu Deus. Uma seleção tão ampla e variada… os últimos 3 álbuns que comprei foram de Hania Rani, Arthur Russell e um álbum de jazz de Sphere. Eu ouço soul, jazz, música relaxante, clássica, todos os tipos, na verdade.


Para finalizarmos, a nossa clássica pergunta de encerramento: o que a música representa na vida de vocês? Muito obrigada pelo tempo de vocês e pela entrevista! 

A música sempre foi importante para mim. Desde quando eu era criança, na verdade. Então, estar na grata posição de pegar esse amor e fazer carreira com ele foi simplesmente perfeito.

Thee está disponível no Apple Music, Bandcamp, Beatport, Spotify, YouTube e demais plataformas.

Conecte-se com o X-Press 2: Instagram | SoundCloud | Spotify | YouTube

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