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A música conecta

Alataj entrevista Joss Moog

Por Caio Stanccione em Entrevistas 07.10.2020

É do conhecimento de todos que a França é um dos principais exportadores de talentos em se tratando de música eletrônica. Artistas como Daft Punk, David Guetta, Justice e Bob Sinclair são oriundos do país onde a vida noturna sempre foi muito viva. Os franceses tem como lema a seguinte frase Liberté, Égalité, Fraternité (Liberdade, Igualdade e Fraternidade), o que faz com que a cultura de se expressar através das mais variadas formas e sem julgamentos ou censura seja algo intrínseco no povo francês. É justamente essa liberdade, igualdade e fraternidade que fez com que o país tivesse um cenário tão rico na cultura clubber. 

+++ Who? Joss Moog

E é graças à intensidade que a música de pista francesa tem que nosso entrevistado de hoje decidiu dar o passo de ser apenas um espectador para se tornar um dos principais players em se tratando de House Music no país. Nativo da cidade de Paris, Joss Moog iniciou sua carreira no começo dos anos 2000, motivado pelo estrondoso French Touch, movimento que marcou artistas de House Music e que nos entregou incontáveis hits que são tocados até hoje. Em 2006, Joss, a convite de Phil Weeks, lançou seu primeiro EP intitulado Room 25 EP, que até hoje é um dos trabalhos de maior destaque do artista francês. Em 2015, ele resolveu dar um passo a mais e junto a Around7 e SFD criou a Ondulé Recordings, gravadora de alta relevância quando se trata de House Music feita em sua forma mais pura. Conversamos com o artista que nos contou com detalhes sua trajetória, ajudando a entender o porquê de hoje ser um dos principais nomes da House Music underground na França. Confira. 

Alataj: Olá Joss, tudo bem? Muito obrigado por falar com a gente! Você é natural de Paris, correto? Como é viver em uma cidade que é um dos pólos da música eletrônica no mundo? Você é muito influenciado pela noite que Paris proporciona?

Joss Moog: Tudo ótimo, eu quem agradeço o convite! Sim, nascido e criado em Paris, mais precisamente na parte leste da cidade, onde levo em torno de 20 minutos até o centro. Para mim, Paris é uma cidade linda e é a noite que essa beleza se mostra, menos pessoas nas ruas, menos trânsito e a iluminação característica daqui revela o quão instigante a cidade pode ser. 

Às vezes me sinto um turista quando tenho uma gig ou simplesmente decido ir a algum club, são muitos lugares para se explorar. A beleza da cidade combina perfeitamente com a beleza da vida noturna, ambos acrescentam muito para a minha criatividade, não é raro eu sair de alguma festa/club e ir direto para meu estúdio por conta disso.

É comum que os DJs iniciem sua jornada musical em um estilo diferente dos que eles apresentam hoje. Com você foi assim também ou desde o primeiro momento você esteve focado no universo da House Music? Tem algo, alguém ou artista em especial que te inspira desde o início de sua carreira?

Lembro do meu irmão ser muito fã do Depeche Mode. As melodias sintéticas e o clima que criavam em suas canções me despertava muita curiosidade e ainda despertam, acho que essa banda foi meu primeiro contato com a música eletrônica, foi o som do Depeche Mode que me levou a comprar meus primeiros sintetizadores. Além do Depeche Mode, sempre ouvi Hip Hop, Jazz, Funk e Soul, foi justamente esse o gatilho para meu flerte com a House Music, que na época estava vivendo a explosão do movimento French Touch, que nada mais é que House Music feita com samples herdados justamente do Jazz, Funk e Soul.

Aproveitando a pergunta anterior, pode nos citar três artistas de outros estilos diferentes da música eletrônica que você goste e o motivo?

Patrice Rushen, porque ela significa perfeição musical para mim. Excelente tecladista, cantora e compositora. Eu simplesmente amo tudo que ela já fez e faz. Jamiroquai também me influenciou muito também. As linhas de baixo que Stuart Zender tira e o jeito de tocar de Toby Smith, o tecladista da banda, beiram a perfeição. Eram harmonias e melodias que falaram comigo. E Stevie Wonder, por ser um dos mestres da composição. A discografia e o número de sucessos que compôs impressionam qualquer um!

Você é um dos artistas que mais tem constância no selo do Phil Weeks, Robsoul. Como surgiu esse relacionamento com o label? Algum release especial que é marcante para você?

Conheço Phil há muito tempo, é de responsabilidade dele eu ter ido para as linhas mais undergrounds da House Music. Nosso contato começou após trabalharmos juntos em algumas faixas mais comerciais no começo dos anos 2000. Em 2007, Phil me convidou para lançar um EP em sua gravadora, Room 25. Hoje, somos muito próximos, é muito fácil trabalhar com ele além de ele ser um cara muito profissional, é por isso que lançar músicas na Robsoul sempre foi um dos meus focos. É difícil escolher um release, mas eu escolheria o LP Back to Basicsdo Around7, que é um LP downtempo lançado pela Robsoul Jazz há alguns anos.

Um dos trabalhos que consideramos mais interessantes no seu catálogo dentro da Robsoul é a série Room. Como se deu o processo criativo dela? Você sentiu a necessidade de fazê-la ou foi um projeto que aconteceu naturalmente?

A Room Series começou justamente com o EP Room 25, o nome veio por conta de um fim de semana de dia dos namorados com minha esposa no início de nosso relacionamento. Não me lembro exatamente qual motivo de ter iniciado a série, mas o processo de seleção de faixas para a Room Series se baseia em faixas que eu tenha feito com um rhodes ou um sample de piano, acompanhado por uma bateria e linha de baixo bem groovadas, o que considero uma espécie de assinatura em meus trabalhos.

Qual foi o seu primeiro equipamento de estúdio? Você ainda o usa? E hoje, quais são os equipamentos que considera imprescindíveis para desenvolver seu trabalho?

Eu sempre fui um artista híbrido, combino software e hardware 100% das vezes que estou em estúdio. Tratando-se de hardware, eu me lembro de ter usado o sampler Yamaha SU700, nos softwares os primeiros sintetizadores que usei eram os nativos do Cubase SX. Hoje a minha peça central é uma MPC 3000, que uso combinado ao Cubase 10 e Ableton Live via Rewire.

Me sinto mais confortável com o Cubase, foi meu primeiro DAW e é o qual domino, mas costumo usar o Live para algumas funções por conta da sua facilidade e intuitividade. 

A MPC3000 exige mais processos, o que a torna mais trabalhosa de se usar, porém o som que sai dela é singular. Eu a uso mais para meus projetos downtempo.

Quanto ao que considero imprescindível dentro de um estúdio, um bom par ouvidos e uma boa dose de curiosidade, estes são para mim os “hardwares” indispensáveis para se compor.

É notável seu apreço pela arte de samplear, habilidade que requer uma bagagem musical extensa. Quando e como você iniciou esse trabalho em suas produções? Aproveitando, você já usou algum sample de música brasileira em suas músicas?

O uso de samples aconteceu de forma lenta no meu processo de criação. No início, eu criava minhas melodias através dos sintetizadores que tinha. Quando descobri que era possível criar uma música com recortes de outra, eu fiquei impressionado, comecei a usar samples porque quando se trabalha com samples não é somente agilidade que ele representa, existe toda uma cultura pela Sample Based Music, quem descobre um sample nunca usado, quem usou um sample super conhecido de forma inovadora, a arte do sampling é como uma caça ao tesouro e eu me descobri apaixonado por isso.

Olha só que coincidência, em Março deste ano, lancei uma faixa pela Ondulé Recordings que leva um sample de Perfume De Cebola, música de Filó Machado.Usei recortes da guitarra que tem na faixa de Filó e o resultado final é uma faixa chamada Aroma do Brasil.

O trabalho da Ondulé Records é de alto nível em todos os seus releases. A sua parceria com Around7 e SFD já acontecia antes da Ondulé ou foi a ideia de criar um label que aproximou vocês? Como acontece a curadoria das faixas que serão lançadas?

Sim, nós já éramos amigos próximos antes da Ondulé. Foi justamente a amizade que temos que me fez convidar Around7 e SFD para criar o label. O começo como em qualquer situação, foi de aprendizado, até dividirmos as funções para que cada um encontrasse seu lugar e ficasse à vontade dentro da gravadora levou tempo, mas hoje funcionamos como um relógio.

A tomada de decisão é bastante simples e democrática entre nós, somos em três, então nunca temos empate nas decisões, estamos acostumados a trabalhar assim para decidir quais faixas vamos lançar.

A atuais circunstâncias por conta do coronavírus trouxe uma reviravolta no mundo do entretenimento. Muitos artistas estão precisando se reinventar, fazendo live streams, aplicando mentoria, etc. Você sentiu necessidade de se reinventar nos últimos meses? Descobriu alguma aptidão nova?

Eu não senti uma necessidade real de me reinventar, mas essa pausa em tudo me permitiu ter um tempo para refletir e decidir certos aspectos do meu universo musical.

Música pode e vai te consumir muito tempo se falando de produtor e DJ. Assim como a tecnologia, a indústria da música está cada vez mais rápida e DJs e produtores precisam ser constantemente produtivos. Do ponto de vista artístico, o fato de ter que desacelerar foi benéfico.

Em 2020 seu álbum Late Nite Beats completou sete anos. Você tem planos de lançar um novo álbum em um futuro próximo? Podemos esperar alguma novidade ainda para este ano?

Adoraria produzir um novo álbum e ideias não me faltam, posso te garantir, mas ainda não consegui encontrar tempo suficiente para começar. A composição de um álbum é um processo criativo que ocupa todo o seu tempo, pelo menos é assim que eu vejo. Eu tenho um EP e alguns remixes que preciso terminar e justamente pela falta de tempo, estou os adiando. Ops!

Para finalizar, uma pergunta tradicional do Alataj. O que a música representa em sua vida?

A música para mim simboliza emoções e memórias.

A música conecta.

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