Techy e ao mesmo tempo melódico, groovado e ao mesmo tempo profundo e sensível. Essa é a marca do projeto alemão, Kollektiv Turmstrasse, que vem inspirando a cena eletrônica mundial nos últimos anos através de um ponto de encontro peculiar entre os contrastes do House e do Techno. Antes como dupla, e agora com Nico Plagemann à frente do projeto, o Kollektiv Turmstrasse segue inovando após mais de duas décadas à frente dos palcos.
Durante todos esses anos, a presença em labels como Diynamic, Watergate, FFRR e Connaisseur Recordings ajudaram a moldar a identidade do projeto que passou a compor os line-ups dos principais festivais europeus como Tomorrowland, Amsterdam Dance Event, Diynamic Festival e muito mais. Além disso, o Kollektiv Turmstrasse é dono de um hit que soma mais de 22 milhões de plays no Spotify, Sorry I’m Late, faixa que foi responsável por levar o projeto aos holofotes.
Esses últimos meses foram agitados para Nico dentro do estúdio. O EP YAP lançado pela Not Sorry em julho traz o frescor techy, pulsante e fora da curva que se tornou característica principal da assinatura do projeto, enquanto que Raw – a mais nova faixa lançada na compilação de 20 anos da Watergate – resgata a vibe “rave” e hipnotizante que faz parte de seus contrastes.
Confira o papo que tivemos com Nico sobre a trajetória do Kollektiv Turmstrasse até aqui, os detalhes de seus últimos trabalhos e a conexão com o público brasileiro.
Alataj: Olá! Obrigado por atender essa entrevista. Eu poderia começar essa entrevista que combinei alguns dias com seu PR aqui no Brasil com um ‘Sorry, I’m Late’ mas acho que seria uma piada sem graça. De qualquer forma, acho importante falar sobre o impacto que esse sucesso teve na carreira do projeto, além do fato de eu ter testemunhado todo seu poder em uma pista de dança. Olhando para trás, mais de 6 anos após o seu lançamento oficial, o que vocês consideram que foram os principais pontos de sucesso dessa música e como ela soou tão diferente naquele período onde existia uma clara mudança de tendência da cena?
Nico: Bem, para resumir, uma piada se transformou em um sucesso. Quando produzi Sorry I’m Late no estúdio, não estava pensando em sucesso ou tendência. E para ser franco, mesmo que pareça egoísta, eu faço a música para mim antes de mais nada. Claro que é ótimo ter uma gravadora, fãs celebrando a música, mas essa nunca é minha intenção quando estou no estúdio.
O fato de Sorry I’m Late ter se tornado um sucesso também tem algo a ver com Solomun. No final, ele era o único sentado no estúdio e disse: “eu tentaria esta faixa fora”, e então, dropou a faixa no set no México. Bom, e então o resto aconteceu assim. Claro que a repercussão foi realmente surpreendente e nos deu um verdadeiro alento, mas por outro lado sempre tive a sensação de já ter produzido coisas melhores.
Estou falando sério, quem conhecia Kollektiv Turmstrasse antes de Sorry I’m Late, sabia que era divertido, uma linha de baixo sempre no 1 e um sample de black rob, emparelhado com um lead do Minimoog. Eu morri de rir durante a produção, isso foi a coisa mais improvável que eu sempre quis fazer, mas é isso, cá estamos!
Tom, harmonia e ritmo dizem muito sobre a emoção que a música pode causar no corpo e coração dos ouvintes, certo? Para você, é mais importante fazer uma música que seja tecnicamente perfeita ou que toque o coração do maior número possível de pessoas?
O sentimento deve estar sempre presente, pelo menos para mim como produtor. Eu não poderia fazer música sem esse sentimento, o que eu quero dizer é que o sentimento desse momento mágico ou o ponto quando um som ou um sample é o gatilho para uma faixa inteira, porque de alguma forma tudo se encaixa e faz sentido de acordo. Um bom esboço pode ser tão engenhoso e comovente quanto uma faixa finalizada.
Como alguém que começou seu relacionamento profissional com a música ainda no século passado, você certamente testemunhou uma série de transformações e tendências neste longo período. O ambiente externo costuma exercer algum tipo de influência significativa na forma como você cria e toma as decisões ligadas a música?
Claro, claro que eu vivo nessa cena nessa cultura. Isso tem menos influência em mim, acho que agora uso tudo que gosto, seja tendência ou não. Ou eu sinto ou não.
Sobre o Brasil, quais são suas melhores memórias das passagens por aqui?
O que posso dizer além de que o Brasil continua me surpreendendo? Quero dizer, é um dos países mais bonitos do mundo. E a cultura club tem um impacto tão significante quanto a Europa.
Existem DJs que não gostam de tocar no Brasil? O que mais posso dizer. Os brasileiros são simplesmente festeiros, isso faz parte da sua cultura. Vocês sabem dançar e festejar loucamente. Eu amo isso. Mas também me lembro do momento em que estive pela primeira vez em Copacabana, no Rio – você não se esquece disso. Eu ainda tenho uma xícara da primeira turnê até hoje e quando a pego e tomo meu café, aprecio esse momento.
YAP, seu EP mais recente de faixas originais lançado pela Not Sorry é uma viagem cósmica com abordagens musicais fora da curva. É possível dizer que este tipo de assinatura sonora é o que define o projeto atualmente? Por sinal, ter uma identidade musical clara foi/é uma prioridade para você?
Eu amo a música eletrônica em todas as suas facetas. Há fases em que faço mais house e depois techno de novo, e depois outra coisa de novo. Eu também adoro combinar tudo facilmente. Por que eu deveria me deixar rotular? Eu não tenho essa ideia de som de assinatura. Acho que tenho um jeito de fazer música, um jeito de envolver meus sentimentos na música e você pode ouvir isso o tempo todo, mas não apenas em um gênero.
Para finalizar, uma pergunta clássica do Alataj. O que a música representa em sua vida?
A música é minha vida e sempre será, às vezes mais alta, às vezes mais silenciosa. A música me faz voar e a música me pega quando eu caio. Os produtores clássicos caem.
A música conecta.