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A música conecta

Alataj entrevista M.A.N.D.Y.

Há pouco mais de um mês, no dia 23 de julho, a Get Physical Music lançou um trabalho bastante especial, revisitando a track Gizmo, lançada por um dos heads da gravadora na época, M.A.N.D.Y., em 2015. Para buscar inseri-la nas pistas novamente, a crew então resolveu lançar um EP de remixes para que a música ganhasse novos ares.

As novas direções sonoras foram entregues por Amine K & Yahya, Christopher Schwarzwalder e Minaday e você pode ouvir todas elas logo abaixo, enquanto aproveita a oportunidade para ler o bate-papo que tivemos com M.A.N.D.Y., que falou não só sobre o último release, como também sua atual relação com a Get Physical, com o Brasil, saúde mental e mudanças históricas do cenário. Boa leitura!

Alataj: O novo EP vem numa onda bem Organic House, que é um estilo muito interessante que têm se destacado muito nos últimos anos, inclusive na própria Get Physical. Como se deu a curadoria artística para o EP? Por que recrutaram Amine K e Yahya, Cristopher Schwarzwälder e Minaday? E qual a sua visão sobre a Organic House?

M.A.N.D.Y.: Nosso gosto musical sempre foi muito diverso, acho que foi uma das marcas registradas do som das gravadoras, tanto da Get Physical, quanto da Kindisch. Após muitos anos seguindo estilos de Techno Hardcore na adolescência, a maioria de nós da Get Physical fomos em direção ao Deep House para ter algo novo para explorar. A mistura de músicas tradicionais de todo o mundo, principalmente da América do Sul e do Oriente, parece desafiadora e estamos bem próximos de muitos artistas da cena Organic House, por isso convidamos alguns amigos queridos.

Como é o seu trabalho à frente da Get Physical? Sobrou alguém além de você no comando/staff da gravadora do time original? E qual o papel de cada um hoje?

Faz um tempo que saí da gravadora, só estou ajudando a equipe com conexões para novas músicas e artistas interessantes que eu descubro de vez em quando.

A Get Physical também tem uma proximidade bem grande com a cena musical do nosso país, certo? Há algum motivo em especial para isso?

A maioria das atividades da Get Physical no Brasil são idealizadas pelo gerente da gravadora, Roland Leesker. Ele ama o país pessoalmente e enquanto DJ, além de ser muito próximo de Leo Janeiro e outros, então acho que essa parceria e amizade ajuda nas conexões com o Brasil.

O que você conhece da cena eletrônica brasileira? Tem artistas ou lugares favoritos no seu coração?

Eu tive meu primeiro contato com a cena brasileira há dez anos em uma turnê com gigs no D-EDGE, Warung Beach Club, Rock in Rio e outros. Me apaixonei pelo que vi. Desde então, ficamos muito próximos da D-EDGE e do Renato Ratier. Renato sempre nos convidava para grandes apresentações e nós o convidávamos para lançar músicas na Get Physical.

O projeto M.A.N.D.Y. foi lançado originalmente como um duo por você e seu velho amigo Philipp Jung há duas décadas. Como era aquela época, e quais você considera os momentos mais especiais vividos com o projeto?

Já éramos amigos na adolescência e quando nosso hobbie de DJ se transformou em um negócio sério, envolvendo uma gravadora e gerenciamento de eventos com vários funcionários, ficamos estressados, após 15 anos juntos na estrada, dia e noite, 24 horas por dia, sete dias por semana. 

Precisávamos de uma pausa, assim como um casal de idosos e descobrimos que nos sentimos mais confortáveis sem um relacionamento profissional. Ainda somos amigos e isso é o mais importante. No que diz respeito à criatividade, estávamos em um progresso individual, indo em direções diferentes, então não conseguimos aproveitar um B2B.

Esse lance de precisar dar um tempo… é de fato muito insana essa rotina de DJ. Como você faz pra se manter equilibrado — física e mentalmente — nessa profissão?

A certa altura percebi que preciso tomar cuidado redobrado com minha saúde física e mental. Já faz aproximadamente 10 anos que comecei a fazer dietas especiais e a ficar longe de qualquer tipo de intoxicação por alguns meses durante o ano. Além disso, criei novas rotinas em minha vida, como meditação, trabalhos de respiração e banho de gelo.

Também comecei a estudar filosofia e budismo. Isso foi antes do Covid. Tudo isso me ajuda a ser forte e estável durante esse furacão que é o Corona.

Falando em Covid, como tem sido esse período maluco de pandemia pra você? Afetou muito a sua vida? Aqui no Brasil ainda estamos mergulhados no problema, mas na Europa vejo muito club já reabrindo…

Por um lado, a pandemia está trazendo mudanças e oportunidades incríveis para o nosso cenário musical. Eu aprendi em Berlim que temos inúmeras microcenas crescendo e elas estão ficando mais fortes a cada dia com suas próprias versões de rave, música e cultura fashion.

Como DJ e produtor há mais de 30 anos, quais você diria que foram as principais transformações pelas quais você e o cenário eletrônico passaram? Existe aquela clássica nostalgia na sua visão, de que antigamente era mais puro, mais genuíno, ou pelo contrário, as coisas estão ainda melhores atualmente?

A cena eletrônica global foi dominada por um fluxo constante de Techno corporativo na última década. Eu acho incrível ver novos espíritos jovens e locais tomando conta de seu próprio cosmos novamente. Eu acho que seria lindo se tivéssemos menos DJs e ravers viajando ao redor do mundo para manter viva a paixão por nossa cultura musical.

Para finalizar: o que a música representa na sua vida? 

A música nos ajuda a liberar nossa criança interior, a sermos criativos, a brincar, a dançar, a cantar e a estarmos conectados. Música e eventos musicais são essenciais para a vida. Vamos lutar pelo nosso direito de festejar.

A música conecta.

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