Skip to content
A música conecta

Mergulhando em Mêlé, novo lançamento de Pedro Bertho com remixes de Alejandro Paz e BADSISTA pela Cracki Records

Por Isabela Junqueira em Mergulhando 12.03.2024

Produto das suas explorações, vivência e valores, a música de Pedro Bertho é dinâmica e caleidoscópica. “Mêlé” em livre tradução é “misturado” e dá nome ao seu disco fazendo alusão direta não só a sua música, mas também sobre como é ser um homem negro e brasileiro vivendo na França do século XXI. Baseado em Lyon, na França, há quatro anos, a abordagem musical de Pedro não distingue gêneros e origem, na verdade seu som é enriquecido dessa abundância de influências, resultando em faixas que fazem o corpo dançar e a alma vibrar. House, funk, electro, reggae/dub, Italo disco, música afro e brasileira são alguns dos ritmos que Bertho envolve nessa narrativa.

É justamente essa complexa colcha de retalhos de heranças e sotaques que ele traduz em Mêlé, um condensado dos seus dois últimos, representados em um poderoso disco formado por seis originais e dois remixes por BADSISTA e pelo chileno Alejandro Paz. Lançado pela Cracki Records, embora já tenha lançado pelo selo, Mêlé marca o primeiro EP de Bertho pelo selo francês.

Pedro Bertho compartilhou com a redação do Alataj detalhes como a ideia que deu origem à Mêlé, escolha do selo, a grande influência e outras considerações importantes para entender a complexidade acerca do primeiro lançamento do DJ e produtor deste ano. Confira abaixo:

A ideia

“J’accepte mes origines, mais que vais-je en faire?” Aimé Césaire 

“Eu aceito minhas origens, mas o que farei com elas?”, é uma frase de um poeta, escritor e político martiniquês-francês, conhecido por defender os povos colonizados e também por um movimento literário super importante chamado “negritude”. 

Mêlé é um álbum que concretiza em um disco meus dois últimos anos de trabalho aqui na França, país que resido há 4 anos desde que decidi que a música era aquilo que me conectava com a vida e que eu deveria tentar viver o máximo possível dela.

A ideia desse album foi tentar traduzir uma parte de mim; um artista imigrante, negro, vivendo em outro continente. Ele consolida diversas referências na música, mas resulta em um álbum voltado para a pista.

Vocês vão encontrar sonoridades da África do Oeste, brasileiras, do dub, electro, do acid house e mesmo do funk (ou do “baile funk” como os gringos dizem [risos]).

A escolha da gravadora

Foi a gravadora que me escolheu! [risos]

Tinha lançado Tigueretá dois anos antes com a Cracki Records em Paris, uma faixa que tinha feito para tocar no carnaval no Brasil quase como uma brincadeira, mas que acabei não conseguindo tocar por conta da pandemia. A faixa no entanto me rendeu bons frutos e tive/tenho vários suportes de diferentes artistas… foi tocada em algumas edições do Boiler Room, festivais e clubs por aí.

A partir daí comecei a então a preparar com a turma do label esse álbum. Foi um processo relativamente longo por conta da pandemia e também por buscar traduzir essa história de ser Mêlé em um disco. Aliás, deixo aqui meu grande agradecimento a Alejandro Paz e a BADSISTA, que contribuíram com remixes para esse disco. Fiquei muito lisonjeado de conseguir trabalhar com artistas que me inspiram enormemente… 

A Cracki Records é um super label de Paris com muitos artistas talentosos que produzem música eletrônica, mas também vários de outros estilos. Acho que isso colaborou muito para o fato de juntos tentarmos contar uma história nesse disco com muita liberdade e troca entre nós.

A grande influência 

A grande influência aqui acho que foi uma tomada de consciência da música que quero fazer e que acredito. Todas as faixas que estão nesse álbum me representam de alguma forma nesses últimos anos, mas também carregam minhas referências musicais como disse anteriormente: dub/reggae, música da África do Oeste, MPB e a música de club. 

O significado

Alívio e orgulho! Hehe

O processo de lançamento desse disco foi um pouco longo por conta de fatores que estavam fora do meu controle, então tive que aprender a lidar com minhas expectativas (expectativas também do mercado) e ter muita paciência. Para mim fica a metáfora de ter “revelado um retrato” meu, que tive que esperar alguns anos para ver o resultado. Apesar de não ser mais o mesmo, ainda é sobre mim e ecoa uma imagem minha nas pessoas. 

Estou muito feliz com o resultado. 

A pista dos sonhos

Eu testei todas as faixas nos últimos anos em clubs, mixes, festivais… é engraçado que muitas pessoas me pediam a “track id” dessas faixas, o que me deixava mais confiante para colocá-las em um disco. De alguma forma então, já tenho carregado e tocado essas faixas comigo [risos].

A pista dos sonhos, para mim, com certeza seria aí no Brasil. Provavelmente em São Paulo, em alguma festa com gente de cabeça aberta e querendo conhecer sons novos.

Mêlé está disponível no Bandcamp, Beatport, SoundCloud, Spotify e demais plataformas digitais.

Conecte-se com Pedro Bertho: Bandcamp | Instagram | SoundCloud | Spotify

A música conecta.

A MÚSICA CONECTA 2012 2024