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A música conecta

Olga de Souza e a história da Corona: a brasileira por trás de The Rhythm of the Night

Por Elena Beatriz em Notes 09.12.2025

Quando The Rhythm of the Night explodiu nas pistas em 1993, ela chegou ao mundo como um dos grandes símbolos do Eurodance. O que o público não sabia, porém, é que por trás da faixa havia uma história que ilustrava um fenômeno comum na indústria naquele período: os vocais pertenciam a uma cantora, mas a imagem apresentada ao mundo era de outra artista. No caso de Corona, a voz que moldou o refrão icônico pertencia à italiana Jenny BGiovanna Bersola — enquanto quem aparecia nos videoclipes, capas de disco, apresentações de TV e matérias da imprensa era a modelo e cantora carioca Olga de Souza.

A separação entre quem cantava e quem representava o projeto publicamente não era incomum. Produtores trabalhavam com equipes fixas de vocalistas de estúdio e, paralelamente, buscavam artistas que pudessem representar visualmente o grupo — modelos, performers ou figuras com forte presença cênica, entendidas como parte fundamental da estética televisiva que dominava o mercado nos anos 90. Lisa Marie (Double You), Robyx, e a própria Black Box já tinham passado por dinâmicas semelhantes. Jenny B, apesar de ser uma das vozes mais potentes e requisitadas da cena italiana, responsável por sustentar hits como The Rhythm of the Night, Think About the Way (Ice MC) e Saturday Night (Whigfield), raramente aparecia nos materiais oficiais.

A entrada de Olga de Souza nesse universo começou anos antes. Ela se mudou da Zona Norte do Rio para a Europa no fim dos anos 80, depois de trabalhar como bancária e modelo no Brasil. Primeiro passou por Portugal e depois por Milão, onde foi descoberta por Francesco Bontempi, produtor do projeto Corona. Ele buscava uma artista com presença marcante para representar a banda nas TVs europeias — um mercado que dependia intensamente de performances ao vivo e videoclipes. Em um primeiro momento, a escolha de Olga para integrar a banda se deu levando em consideração o seu domínio do palco, carisma e facilidade de comunicação em vários idiomas, que a colocaram no centro do projeto desde o início.

Assim a Corona ganhou forma: a combinação entre a voz marcante de Jenny B e a forte  presença de Olga, que se tornou rapidamente reconhecida em toda a Europa. The Rhythm of the Night alcançou o top 10 no Reino Unido, entrou no top 20 da Billboard Hot 100, permaneceu por meses no topo de rádios europeias e vendeu mais de um milhão de cópias. Em programas como Top of the Pops, Dance Machine e Festivalbar, era Olga quem aparecia representando a banda, sempre com energia expansiva, coreografias de destaque e figurinos que hoje são lembrados como parte da iconografia do Eurodance.

Com o crescimento do projeto, Olga passou a participar de turnês, premiações e calendários promocionais. Em entrevistas, ela conta que enfrentou resistência no início do projeto por ser uma brasileira representando uma banda italiana, mas rapidamente se tornou a figura mais associada ao nome Corona. Em paralelo, Jenny B seguiu carreira solo e tornou-se uma vocalista premiada da música italiana, vencendo o Festival de Sanremo em 2000.

Em 2006, Olga assumiu oficialmente os vocais da Corona, tornando-se de fato a cantora da banda que já representava havia mais de uma década. A partir daí, Corona deixou de ser apenas um projeto conduzido por produtores italianos e passou a carregar uma identidade liderada por uma artista brasileira em toda a sua integralidade, englobando voz, presença e narrativa. Ela então regravou parte do repertório clássico — incluindo The Rhythm of the Night — e iniciou uma fase com novos álbuns, turnês pela América Latina, Europa e Ásia, e participações recorrentes em festivais dedicados aos anos 90

Hoje, três décadas após seu lançamento, The Rhythm of the Night permanece como um dos maiores sucessos da história do Eurodance e carrega, em sua totalidade, um tempero brasileiro que muitos só descobriram anos depois. A trajetória de Olga de Souza transformou o projeto Corona em algo que ultrapassou a ideia inicial do mercado: sua potência consolidou um lugar raro na música internacional, fazendo com que uma artista nascida na Zona Norte do Rio de Janeiro se tornasse protagonista de um capítulo importante da cultura clubber europeia.

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