Toda vez que escuto falar em Jamie Jones me vem claramente à mente um momento marcante na minha relação com a música eletrônica, que foi a primeira vez que ouvi Hungry For The Power na pista de dança. Aquele lugar simplesmente explodiu de uma forma que poucas vezes tinha visto! Foi o próprio Jones quem deu play nesse hitzão em meio a um set enérgico, dançante e bem construído, em uma de suas apresentações emblemáticas no Warung Beach Club.
Vou contar mais uma experiência. Mais marcante que a primeira, aliás, mas preferi seguir uma ordem cronológica. Um dos momentos mais impressionantes que presenciei em um festival foi a apresentação da banda Hot Natured, na TribalTech, em 2015. Eram milhares de pessoas literalmente gri-tan-do as letras das faixas durante o show, a ponto de quase não se conseguir ouvir a voz de Anabel Englund.
Essas lembranças me fizeram entender a força que Jamie Jones tem. Pode ser que muitas pessoas torçam o nariz para ele, assim como o torcem para o Tech House em geral, estilo mais atrelado ao artista até hoje, mas é inegável que o britânico construiu um movimento massivo dentro dessa linha sonora, como DJ, produtor, label owner do Hot Creations e da festa Paradise, que nasceu em Ibiza e hoje percorre o mundo.
Tudo isso iniciou na mente de um jovem amante de Happy Hardcore (estilo acelerado que fez muito sucesso na Europa nos anos 90), em uma pequena cidade de menos de 10 mil habitantes chamada Caernarfon, no País de Gales. Se você der um Google neste lugar perceberá que é um local um tanto quanto improvável para crescer uma estrela de música eletrônica. Jamie conta em uma de suas entrevistas ter crescido em uma família com muito amor e alegria, com uma mãe que, ainda que não tivesse lhe dado uma base musical expressiva, lhe deixou muito livre para seguir o caminho que quisesse na vida.
Primeiro veio o desejo pela discotecagem e o aprendizado de forma inusitada. Com um par de toca-discos e alguns vinis em casa comprados pela mãe quando ele tinha 15 anos, Jamie não sabia fazer absolutamente nada com os equipamentos. Foi ouvindo um programa de rádio de Pete Tong que ele ouviu um artista explicar o que era beatmatching e como se fazia para colar as batidas, e assim foi aprendendo sozinho a mixar uma faixa na outra.
Ao mesmo tempo, veio a obsessão pela bateria e principalmente as orgânicas. Seu ouvido sempre foi atento às batidas de todas as faixas, tentando descobrir como o arranjo das baterias eram construídos. A produção musical veio naturalmente, então. Acontece que, por muito tempo, tudo isso não era levado à sério por Jones, que não via isso como uma carreira. Apenas quando os resultados começaram a surgir e os projetos passaram a se tornar gigantescos ele entendeu o poder do seu trabalho. Uma fantasia adolescente que se tornou realidade.
O universo também fez seu papel para que o caminho de Jamie Jones fosse tão alegre e amável pois, além de sua família de sangue, ele foi formando outra família ao longo do tempo, a raver, que hoje é a base de todos os projetos que ele participa e o colocaram entre os artistas mais requisitados do mercado da música eletrônica. Dentre eles, uma figura companheira de sua trajetória desde a adolescência até hoje, Lee Foss, com quem fundou a banda Hot Natured, em 2008, e o gigante selo Hot Creations, em 2010.
A começar pela banda, Jamie Jones e Lee Foss se uniram a Ali Love, Luca Cazal (da dupla Infinity Ink) e Anabel Englund, e formaram um grupo que fez enorme sucesso desde os primeiros lançamentos. Com hits como Reverse Skydiving e Benediction, o Hot Natured trouxe ao House e Deep House uma cara um pouco mais comercial, mas mesmo assim com qualidade inegável. A banda não existe mais, mas reverberou intensamente na carreira de cada um de seus participantes.
Já a Hot Creations está ativa – e muito! – até hoje, apostando sempre em uma linha sonora que se concentra no House e Tech House, e cresce dentro do seu cenário cada vez mais, com uma agenda intensa de lançamentos, apostas em novos talentos e boas parcerias com nomes já consolidados, além de releases vindos dos próprios fundadores da gravadora, é claro.
A festa Paradise, por sua vez, foi uma criação de Jamie juntamente com outros amigos que conheceu em Ibiza aos 19 anos, que viveram com ele muitas histórias dentro do famoso DC-10, local que abrigou os primeiros eventos da turma. A maioria das pessoas que fazem a Paradise acontecer fazem parte da vida de Jones desde a sua adolescência, de gerência de marca a direção criativa, até mesmo o residente Richy Ahmed.
Através de todos esses projetos e também pela alta dedicação e talento como DJ e produtor, Jones foi conquistando cada vez mais o prestígio e respeito do público e colegas de profissão. Hoje coleciona muitos sucessos em seu currículo como produtor, sets memoráveis pelos quatro cantos do mundo e se consolidou com uma figura importantíssima no cenário da música eletrônica.
Mas, para ele, um fator muito importante que o fez chegar nesta posição foi o gosto pela festa e a paixão pela vida que sua família lhe passou desde muito pequeno. Jamie Jones é um exemplo de como é possível realizar sonhos e como o caminho para alcançá-los se torna muito mais fácil quando aqueles que nos amam acreditam em nós e nos apoiam. A partir daí, construiu-se uma verdadeira corrente de amor, apoio, sorrisos e muita música.
A música conecta.