Skip to content
A música conecta

Anderson Noise: 35 anos fazendo barulho e se firmando um titã do techno nacional

Se perguntássemos a qualquer clubber quem é Anderson de Almeida Alves, talvez muitos não saberiam dizer, mas basta trocar o sobrenome abrasileirado por “Noise” (barulho, traduzindo ao pé da letra) que a resposta vem na ponta da língua. Isto porque o DJ e produtor mineiro Anderson Noise fez história e revolucionou a cena que temos hoje, quebrando limites e preconceitos desde o final dos anos 80, quando iniciou sua carreira. Quem é artista hoje talvez não imagine o quão dificultoso era ouvir e comprar músicas naquele tempo, quando vinis chegavam em doses modestas ao Brasil, numa época em que a internet era embrionária, uma realidade totalmente diferente da atual. Ele chegou até mesmo a fazer amizades com comissários de bordo para quem pediu uma lista de discos que gostaria de adquirir.

+++ Minha Primeira Gig | Anderson Noise

Noise não veio de uma família de músicos, muito pelo contrário, seu círculo familiar era bem humilde: a mãe costureira e o pai pintor. Ele largou a escola cedo, no sétimo ano, mas herdou de modo empírico os principais fundamentos para uma vida de sucesso: respeito ao próximo, a importância do trabalho duro, da família e nunca deixar de acreditar nos seus sonhos. Dos 7 aos 12 anos ele já ajudava o pai pintando paredes e, o dinheiro que ganhava, gastava com discos. Depois, ainda na adolescência, arrumaria um trabalho de entregador em uma farmácia para juntar mais dinheiro e aumentar sua coleção de vinis, que hoje é invejável.

Em 1988, aos 19 anos, ele organizou a primeira festa no quintal de casa, convidando principalmente o pessoal da loja onde trabalhava. Com um toca-discos da marca Garrard que havia ganhado de um amigo, sem controle de pitch, Noise percebeu que poderia fazer uma grana tocando já que quase ninguém possuía aqueles equipamentos, então resolveu juntar dinheiro e adquirir as famosas Technics, momento em que se aprofundou na técnica da discotecagem. Com uma visão empreendedora já nessa fase da vida, começou a alugar o seu próprio equipamento e levantou um dinheiro com a ideia, momento em que surgiu o nome “Anderson Noise”, sugerido por uma amiga para estampar o cartão de visitas que ele distribuía para divulgar o lance da locação.

Nos anos 90, ele já tocava em festas maiores e também produzia as suas próprias, muitas em lugares inusitados. A lista tem de circos a manicômios, passando por frigoríficos, cinemas, fábrica de açúcar e prédios históricos. Noise “quebrou a mineirice” com suas ideias disruptivas e conseguiu mostrar que aquele bate-estaca não era apenas barulho, mas sim uma nova oportunidade das pessoas experimentarem coisas novas. Suas festas descritas como “alucinantes” nos flyers começaram a cair no gosto de muita gente e até foram estampadas em outdoors, coisa que era incomum para um DJ naquela época.

Alvinho Noise (irmão), Mamma Noise (mãe) e Anderson Noise, em 1996, por Nino Andres

Lá pelos anos 2000, Noise já era um artista super conhecido. Tanto que tornou-se DJ residente do recém-chegado D-EDGE, em Campo Grande, firmando uma amizade próspera com Renato Ratier. Em 2001 tornou-se residente no club Turnmills, em Londres, integrando o grupo de DJs brasileiros que despontavam no exterior. Em 2002, idealizou a Rádio Noise, a primeira rádio online de música eletrônica no Brasil, com programa transmitido para 14 países. Neste mesmo ano, Noise fez a música Pontapé, de Renato Cohen, chegar aos ouvidos de Carl Cox, já que a track seria lançada pela sua label Noise Music, mas que depois acabou sendo distribuída pela Intec, do próprio DJ britânico, alcançando proporções gigantescas.

Noise e Carl Cox em 2002 no Bavária Vibe, em Maresias

Um fato bastante histórico é que Noise, junto de DJ Marky, Patife e Mau Mau, tocou em todas as edições do Skol Beats no Brasil, que rolou de 2000 a 2008, festival que foi um divisor de águas para a cena brasileira. Neste mesmo período, em 2005, também fez uma turnê pelo Japão tocando no club mais icônico de Tóquio, o Womb, um sonho realizado para ele. Noise nessa época viajava tanto que tinha um cartão diamante de milhas com um saldo estratosférico que chegava a assustar, somando cerca de 35 países no seu passaporte atualmente. 

Nos últimos anos, o artista também deu vida a diferentes projetos reunindo músicas que fizeram e ainda fazem parte da sua história, como o Nie Myer, formado por ele ao lado do tecladista Henrique Portugal e do baixista Lelo Zanetti, que mistura criativamente jazz, música popular brasileira e música eletrônica, além do mais recente 32 32, projeto b2b com seu amigo de longa data DJ Mau Mau para celebrar o mesmo tempo de carreira que ambos possuem.

+++ Alataj entrevista Anderson Noise

Mostrando plena atividade tanto na parte de discotecagem como na parte de estúdio, Anderson Noise agora divulga o seu EP de estreia na Kaligo Records, respeitada label de Techno que já se tornou uma das principais do país no momento atual. Por lá, lançou a faixa Eyelevation, uma track potente e hipnótica que gira em 137 BPM projetada para pulsar nas profundezas da cena clubber underground. Ao seu lado, como remixer, outro estreante, DJ Murphy, que deixou sua marca optando por uma versão dilacerante. Vale a pena ouvir na íntegra e ficar ligado no que essa lenda do techno nacional ainda irá aprontar nos próximos anos. 

Conecte-se com Anderson Noise: Bandcamp | Instagram | SoundCloud | Spotify

A música conecta.

A MÚSICA CONECTA 2012 2024