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A música conecta

De Londres para NY e todos os cantos do mundo: como a XL transformou a Dance Music

Por Ágatha Prado em Storytelling 05.04.2022

Você certamente já ouviu sobre a lenda de Midas, que provém da mitologia grega. A lenda diz que um indivíduo que possui o “toque de Midas” é aquele que têm a capacidade de fazer algo prosperar, onde tudo que ele “toca”, vira “ouro”. Certamente o “toque de Midas” é uma qualidade que cai como uma luva, quando falamos da XL Recordings. O império fundado por Richard Russell, Tim Palmer e Nick Halkes, é ao mesmo tempo o motor propulsor que lançou The Prodigy para inundar os quatro cantos do mundo com a Dance Music, e o mesmo responsável por revelar à indústria mundial nomes como Basement Jaxx, M.I.A, FKA Twigs, Overmono, Blawan, Kaytranada, The White Stripes e Adele. Sentiu o poder?

Antes de falar sobre o passado, presente e futuro da gigante britânica  XL Recordings, é necessário falarmos um pouco sobre a mente brilhante e inquieta de Richard Russell. Russell cresceu em um subúrbio ao norte de Londres, e quando adolescente, passava os fins de semana vasculhando lojas de discos, lançando estações de rádio piratas e promovendo suas próprias festas. Curioso por  importações de discos de Rap de Nova York, Russell passou a ser um fiel seguidor dos “sons híbridos britânicos mestiços” de Garage, Jungle e Drum ‘n’ bass, vendo em primeira mão que as cenas musicais locais poderiam ter um alcance global. A partir daí conseguimos pescar o porquê a XL possui esse espectro sonoro tão amplo e diverso.

Foi então que em 1989, Russell conheceu Nick Halkes e Tim Palmer, iniciando ali uma empreitada que, a princípio, era mais uma das muitas pequenas gravadoras de Londres, destinada ao lançamento de singles de música eletrônica underground. O selo deu start com um lançamento de Frankie “Bones” e Lenny “Dee”, trazendo o supra sumo dos ritmos do Warehouse que inundavam os porões de Chicago e Nova York. Na sequência, nomes como Ellis D., Freedom Authority e Flowmasters, marcavam presença no catálogo trazendo desde Breaks com cuts de House, até uma espécie de Hardcore que parecia ser o futuro do underground britânico.

Dois anos após sua estreia, o selo recebia em 1991, o primeiro EP de um grupo eletrônico recém-fundado, e que Russel acreditava que eles tinham “algo a mais”. O era ninguém menos que The Prodigy, que naquele momento assinavam What Evil Lurks, com as quatro primeiras faixas do quarteto. Com os laços cada vez mais estreitos a cada lançamento, a XL via o The Prodigy caminhando para uma mescla entre a Dance Music underground para uma estética Rock de arena. Foi então que em 1997, o grupo marcou um álbum número 1 na Billboard com The Fat of the Land, e fez parte de uma onda eletrônica que varreu o Atlântico no final dos anos 1990. Esse foi o grande ponto de virada da jornada da XL Recordings.

E quando falamos da representatividade da XL Recordings na música eletrônica, essa também vai além da trajetória inicial de seu catálogo, e do fenômeno do The Prodigy. O mesmo selo, foi o responsável por lançar o debut álbum do Basement Jaxx, Remedy, de 1999, bem como os cinco álbuns posteriores do projeto que levou a House Music para os holofotes da cena mundial. Já na última década recente, o destaque dos olhares da XL vão para o jovem haitiano-canadense Kaytranada, que lançou seu primeiro álbum de estúdio – 99,9% – pelo catálogo do selo, mostrando os novos ares da combinação entre o Hip Hop, House e o Trip Hop. O grupo canadense de Jazz eletrônica BadBadNotGood, o duo britânico de Techno Overmono, a aposta coreana Yaeji, assim como o alemão Blawan, também seguem com os trabalhos chancelados pela XL Recordings durante os últimos anos.

É indiscutível a capacidade da XL Recordings, em fazer o brilho da versatilidade virar sucesso. Porém, apesar de plural e conversar com diversos gêneros para além da própria música eletrônica, a XL Recordings é curiosa na busca por algo diferente. Foi assim quando lançou o genial White Blood Cells, do White Stripes, apresentando um misto de Blues e Garage Rock – que até então era, e permanece sendo, totalmente original aos ouvidos -, além do reverenciado Kala, da M.I.A, que provocou uma uma colisão de ideias que passa pelo Funk carioca, Punk, Hip-Hop e Electroclash. Em 2011 veio o meteórico 21 de Adele, conquistando o mundo com uma poesia romântica e melancólica nas veias do R&B.

Parte do fascínio da marca é o quão confortavelmente artistas como The Prodigy e Adele podem compartilhar o espaço em seu catálogo. Para um aspirante a músico de sucesso, assinar com a XL confere legitimidade. Em 2008, Thom Yorke, do Radiohead, lançou seu primeiro álbum solo pela XL, dizendo ao Pitchfork que havia feito parceria com a gravadora porque era “muito suave” e “sem aquela burocracia corporativa”. O Radiohead agora distribui sua música através do XL também.

Porém, cada vez menos as gravadoras têm apostado na versatilidade musical dentro do seu espectro de mercado. Agora o pensamento do “nicho” e do “rótulo” parece estar de volta, junto ao público que vê no catálogo de uma gravadora segmentada, uma certa afinidade com sua identidade musical. No entanto, foi exatamente essa visão plural que coroa a jornada da XL Recordings em suas três décadas de história. Afinal, será que uma gravadora de “nicho”, consegue persistir por tanto tempo sob os holofotes meteóricos que repousam sobre a majestosa britânica? Seria a versatilidade a chave do sucesso?

A música conecta.

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