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A música conecta

Made in Mannheim: Time Warp e a máxima colisão do House e Techno com a tecnologia

Por Ágatha Prado em Storytelling 04.05.2022

São 28 anos de uma jornada que conta a história do Techno em sua mais verdadeira essência. O Time Warp, hoje considerado um dos maiores eventos do mundo do estilo, carrega um tradicionalismo ímpar que cresceu em meio à resistência, perdurou frente às adversidades, e hoje ostenta um conjunto fascinante de arte e tecnologia, curadoria de reconhecimento e representatividade global, além de uma trajetória que se mistura à difusão da bandeira do Techno pelos quatro cantos do mundo.

Na Alemanha, o Techno historicamente tem um papel importante no que tange a unificação do país, sobretudo, na pressão que o movimento realizava para a queda do muro de Berlim, em 1989. Pessoas dos dois lados da divisão, se reuniam clandestinamente antes da reunificação, criando uma nova cena de festas nas ruínas da divisa. Após a queda, em 1989, isso se intensificou e os prédios abandonados tornaram-se terreno fértil que o Techno precisava para crescer e se tornar um dos estilos musicais mais presentes na nova era de Berlim.

E exatamente nesse contexto, é que podemos encontrar o nascimento – a princípio despretensioso – do Time Warp. A história do festival começa ainda em 1993, na loja de discos de Steffen Charles, em Mannheim. Para promover a sua loja, Steffen passou a organizar noites de discoteca em espaços locais, predominantemente com convidados internacionais. A questão ali, era formar uma rede de curadoria artística e experiências que batesse de frente com o hype do Techno que tomava conta do país, voltando-se para as raízes do underground presente nos primórdios do estilo. 

Foi entre algumas festas, e idas e vindas em sua loja, que Steffen conheceu Michael Hook que já tinha experiências de organização de grandes eventos. Para contrabalançar a corrida ao ouro do Techno – que se tornava um novo fenômeno popular – a dupla queria criar uma rave que fosse fiel às raízes underground do Techno, apresentando os melhores DJs underground internacionais e apresentações ao vivo, som de última geração e design visionário em um local que parecia mais um grande clube do que uma rave enorme. As primeiras edições então, aconteceram aos arredores de Mannheim, como na cidade de Ludwigschafen que abrigou a primeira edição oficial de 1994, além de Bremmen, Speyer e Sinsheinn, incluindo a própria Mannheim que recebeu as edições de 95, 98 e 99.

Porém a resistência de manter o festival na cidade natal, foi um dos desafios que marcou a história do festival. A repressão policial em Manheinn, além da aversão do governo às primeiras edições do festival, resultou na grande crise do Time Warp, que quase decretou seu fim nas edições de 2003. Porém o desejo dos artistas que ali se reuniam em grande encontro de titãs, como Laurent Garnier, Sven Väth, Carl Cox e Richie Hawtin, foram fortes o suficiente para compor a resistência da marca ante às adversidades locais. O entendimento do governo local de que o Time Warp era uma fonte de revolução até mesmo econômica para a cidade, passou a ser realidade na região, confirmando a vitória do underground frente ao viés conservador.

Em uma época em que a maioria dos festivais tentavam ser musicalmente os mais diversificados possíveis, o Time Warp manteve sua política de tradição. Em vez de procurar a todo custo, pelos novos DJs e sons marginais, o festival cresceu com seus artistas –  o que pode parecer conservador para alguns. DJs como Sven Väth, Laurent Garnier, Carl Cox, Richie Hawtin , Ricardo Villalobos , Chris Liebing , Nina Kraviz , Monika Kruse, Loco Dice, Magda e Luciano são partes integrantes da experiência anual do Time Warp. Essa consistência é uma das razões pelas quais o Time Warp se tornou quase que uma sagrada reunião anual de família.

Outro elemento-chave para o sucesso do Time Warp é o alto valor de produção do festival e sua dedicação em criar experiências visuais imersivas em todas as suas pistas de dança, provocando uma convergência real e impactante entre a música e a tecnologia. Novos designs são desenvolvidos a cada edição, transformando cada local em um verdadeiro parque de diversões de experiências lúdicas, audiovisuais e tecnológicas para o público, dando um papel igualmente de protagonista – junto à curadoria musical – para a imersão que promove o projeto.

E claro, para alinhar tal experiência nos mais diversos países que ocorrem o festival, o local e as cidades que recebem o Time Warp são escolhidos a dedo. São Paulo, a cidade brasileira que se tornou o berço do Techno nacional, foi coroada com as edições de 2018, 2019, e agora com o retorno pós pandêmico de 2022. O Sambódromo do Anhembi está pronto para receber mais uma edição histórica neste final de semana. São 31 artistas, que se misturam aos nomes tradicionais que marcaram a evolução de todos esses anos da família Time Warp – como Sven Väth, Maceo Plex, Nina Kraviz, Marcel Dettmann, Kölsch, Ben Klock – além de nomes que vem balançando o cenário mundial contemporâneo – como Innellea, Artbat, Charlotte de Witte e Giorgia Angiulli -, bem como as grandes estrelas do House underground mundial – Palms Trax, Folamour, Four Tet e Ben Ufo. E claro, nomes que fazem girar a roda da música eletrônica de qualidade no Brasil como Millos Kaiser, L_cio, Eli Iwasa, Victor Ruiz e muito mais.

E o que podemos esperar desta nova edição do Time Warp em São Paulo? Bom nada menos do que intensas surpresas imersivas, sistema de som de altíssima qualidade, além da curadoria de ponta que se dividirá entre o Cave Stage e Outdoor. Preparem-se para entrar em um portal totalmente único em que o Sambódromo do Anhembi será transformado, absorvendo uma das experiências mais realistas que o underground mundial pode oferecer. 

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