Skip to content
A música conecta

O impacto histórico de Fatboy Slim na dance music como conhecemos hoje

Por Isabela Junqueira em Storytelling 19.01.2024

“Não seja bobo, não são os Beatles… é só um DJ!”

A frase acima é de uma cidadã que brinca ao ver Fatboy Slim cercado por uma multidão durante sua lendária apresentação no Big Beach Boutique II, em Brighton Beach, na Inglaterra, em 2002. Mas antes de fazer história em um dos maiores acontecimentos já registrados da música eletrônica e também de se tornar o maior artista emergente do nicho, Norman Quentin Cook percorreu um longo trajeto.

A sua narrativa épica começa nas raízes da cena britânica dos anos 80, onde Cook se destacou como baixista da banda The Housemartins de 1983 até 1988 e também do coletivo britânico Beats International de 1989 a 1992. Ainda nos anos 90, ele então recalculou a rota já bastante influenciado pela música eletrônica e se juntou a JC Reid e Tim Jeffery para formar o Pizzaman. O trio se manteve em atividade de 1993 a 1996, rendendo faixas como Trippin on Sunshine e Sex on the Streets. Contudo, foi a partir de 96, após trilhar seu próprio caminho musical, que a abordagem de Fatboy Slim começou a se delinear. Seu projeto solo, repleto de inovação, rapidamente se tornou a trilha sonora da “Rave Culture” que varria o Reino Unido, anunciando uma nova era para a música eletrônica.

+++ Iconic | Fatboy Slim – Praise You [Skint Records]

Produções como Everybody Needs a 303, Michael Jackson, The Weekend Starts Here e Song for Lindy e seu primeiro álbum Better Living Through Chemistry (que inclusive foi citado no livro 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer, escrito pelo co-fundador da revista Rolling Stone, Robert Dimery) ajudaram a acelerar seu posicionamento. No entanto, sua consagração aconteceu de vez em 1998 com o lançamento do álbum You’ve Come a Long Way, Baby, que catapultou Fatboy Slim para o estrelato global. Praise You (que inclusive foi pauta recente em uma Iconic e você pode conferir no link acima), Fucking in Heaven e Right Here, Right Now se tornaram hinos atemporais, transcendendo fronteiras musicais e geológicas, e claro, influenciando gerações de aficionados pela música. A habilidade única na produção fez com que Fatboy criasse uma linguagem musical inigualável, definindo o big beat como um gênero por si só.

Contudo, a sua contribuição não se limitou ao estúdio. Seu trabalho também ganhou espaço nos principais festivais ao redor do mundo, onde suas performances eletrizantes se consagraram tão lendárias quanto sua figura artística. Em 1999, ele foi escalado para o lineup da última edição do Woodstock. Em um cenário caótico de escassez e descaso com o público, o DJ protagonizou um momento tenso e que inclusive foi relatado em Trainwreck: Woodstock 99, um documentário produzido pela Netflix. O final foi desastroso e Fatboy Slim além de não conseguir se apresentar, saiu do evento às pressas e escoltado. Felizmente a situação não impactou negativamente o artista e ele voltou a ser cotado para outras grandes apresentações.

+++ Big Beach Boutique II: o DVD do Fatboy Slim que marcou uma geração

Em 2001, ele começou o projeto Big Beach Boutique e a estreia não poderia ser em outro lugar: Brighton Beach. Nascido e criado em Kent, no sudeste da Inglaterra, a proximidade com a praia a fez um lugar especial para Slim. No dia 7 de julho daquele ano, a primeira edição do Live on Brighton Beach foi gravado e lançado no início do ano seguinte. Mais tarde, em 13 de julho de 2002, aconteceu a gravação do histórico Big Beach Boutique II, novamente em Brighton, reunindo uma multidão durante o evento que era aberto ao público. A organização esperava 60 mil pessoas, no entanto, o público que compareceu foi estimado em 250 mil. Agora você entende a frase que abre o texto [risos]? O evento foi encerrado antecipadamente pela polícia com a justificativa de falta de controle, mas o momento foi registrado, lançado como DVD e eternizado na história da música eletrônica.

Olimpíadas de Londres, em 2012. Foto: REUTERS/David Gray

À essa altura do campeonato, estava claro que Fatboy Slim era sim um fenômeno musical tão relevante e influente quanto alguns dos maiores artistas do mainstream à época e que ignorar o impacto de sua música já não era mais possível. Não à toa, em 2012, ele foi escalado para o time de artistas que protagonizaram o encerramento das Olimpíadas de Londres. Dentro de um polvo gigante, o deejay comandou a performance acompanhado por Jessie J, Tinie Tempah e Tayo Cruz em um medley de nove minutos.

Slim continuou a se consolidar um ícone durante os anos que seguiram, com apresentações importantíssimas e acrescendo sua discografia com faixas que ajudaram a introduzir incontáveis ouvintes à música eletrônica, auxiliando a dar outra dimensão ao nicho musical. Algumas de suas faixas como The Rockafeller Skank (usada recentemente no comercial da Pepsi para a Copa do Mundo de 2022) e Right Here, Right Now no comercial da Volvo foram fundamentais para amplia o senso de popularização da música eletrônica e esses são só mais alguns exemplos dos espaços que o estilo musical pôde alcançar graças a ele.

Para deixar tudo um pouco mais interessante, Fatboy Slim ainda é um apaixonado pelo Brasil e protagonizou algumas memórias para lá de especiais por aqui. Para se ter ideia, ele já se apresentou em ao menos 22 cidades do país em diferentes momentos: Balneário Camboriú (SC), Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Campo Grande (MT), Divinópolis (MG), Fortaleza (CE), Florianópolis (SC), Goiânia (GO), Guarapari (ES), Guaratuba (PR), Guarujá (SP), Manaus (AM), Maresias (SP), Porto Seguro (BA), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São Paulo (SP), Uberaba (MG), Uberlândia (MG) e Xangri-Lá (RS). Dá para contar nos dedos quantos DJs internacionais fazem turnês por cidades que fogem de rotas tradicionais por aqui…

E ele também teve feitos bem curiosos por aqui! Ele protagonizou um evento que foi considerado uma “filial” de Brighton no Rio, já que novamente eram esperadas 200 mil pessoas para uma festa gratuita na Praia do Flamengo, mas o DJ levou mais 400 mil; também gravou o DVD Incredible Adventures In Brazil em um trio elétrico durante o carnaval de Salvador e por último, mas não menos interessante, se apresentou na edição de 2007 do Big Brother Brasil.

A boa notícia é que depois de cinco anos, ele está de volta com três apresentações. Dia 26 deste mês na Warehouse em São Paulo, acompanhado por Krystal Klear, Etcetera, Pedro Gariani, Ignacio, L_cio e Paulete Lindacelva em back to back com Ella de Vuono; dia 27 na primeira edição do Brunch Electronik no Rio de Janeiro com Mochakk, Marta Supernova, Valentina Luz e Viot em back to back com Brisotti e no dia 28, em Brasília, no Na Praia Parque, acompanhado novamente por Mochakk.

Da esquerda para a direita: Neil Tennant (Pet Shop Boys), Brian Molko (Placebo), David Bowie e Fatboy Slim

Desempenhando um papel crucial na democratização da música eletrônica ao quebrar muitas barreiras, ele tornou o inexplorado acessível e provou que a dance music não era apenas uma subcultura, mas uma força unificadora capaz de transcender fronteiras culturais e geracionais. Sua marca indelével na história da música eletrônica não é apenas uma nota de rodapé, mas é um capítulo essencial que, no auge dos seus 60 anos, continua a ressoar na dance music contemporânea com a mesmíssima vitalidade. Fatboy Slim, o maestro de Brighton, permanece uma figura imortal, cuja influência reverbera, pulsante, pelas pistas de dança ao redor do mundo.

Conecte-se com Fatboy Slim: Beatport | Instagram | Site | SoundCloud | Spotify | YouTube

A música conecta.

A MÚSICA CONECTA 2012 2025