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A música conecta

Razor-N-Tape: de talentos locais para grooves globais

Enquanto muitas iniciativas surgem na indústria principalmente por conta do business, visando grana ou sucesso, há algumas outras que focam principalmente na criação de uma comunidade forte e unida, respeitando sua verdadeira essência e abraçando o ecletismo sonoro, sem se curvar a tendências e construindo um catálogo verdadeiramente autêntico, como é o caso da Razor-N-Tape. Com sede no Brooklyn, em Nova York, a história do selo começou a ser escrita por volta de 2012, quando Aaron Dae voltou à cidade e se juntou com Jason Kriv. Na época, o nu disco estava bombando e o SoundCloud vivia o seu pico de popularidade, o “tinder dos DJs”, como o próprio Kriv gosta de chamar.

Com seu slogan Cut in Brooklyn, Good for Dance, gradativamente a gravadora foi se tornando uma marca cult formidável e respeitada dentro da cena americana, feita de DJs para DJs, dirigida por nova-iorquinos para nova-iorquinos. A sua essência com base no Nu Disco foi se expandindo e abraçou nos anos seguintes traços da Disco, House, Funk, Soul, Afro e até mesmo Brasilidades… sem muita regra, a premissa para novos lançamentos verem a luz do dia sempre foi bem simples: “If we think it’s good music, we release it!”. Mas caso a sonoridade da gravadora ainda seja pouco familiar para você, recomendamos fortemente o play em alguns faixas que carregam a essência da RnT, como Get More, de Michael The Lion, Bukom Mashie (JKriv Rework), de Oscar Sulley & The Uhuru Dance Band, e DON’T OHO, de COEO.

Por conta de seus edits dançantes, artistas locais e grooves globais, a Razor-N-Tape não se parece em nada com as grandes gravadoras. Em vez disso, o trabalho realizado pela crew lembra mais o tempo vivido no início dos anos 2000, quando quase tudo era realmente sobre música. Hoje ela conta também com a sublabel Razor-N-Tape Reserve, idealizada em 2014, e sua própria loja inaugurada em outubro de 2022, quando celebrou seus 10 anos de história. Abrindo de sexta a domingo, o local possui praticamente o catálogo completo dos vinis da Razor-N-Tape, roupas e acessórios para DJs, bem como uma seção com curadoria de discos novos e usados.

Por um bom tempo, os lançamentos da RnT sempre foram mais conectados a produtores de House buscando faixas mais potentes voltadas para a pista de dança, mas nos últimos anos a label tem absorvido principalmente trabalhos de grupos e bandas buscando artistas com gêneros mais diversos; para se ter ideia, neste ano de 2023, alguns discos incríveis de projetos como Underground System, Midnight Magic, Phenomenal Handclap Band, lovetempo e 79.5 foram lançados, com isso, a gravadora tem atraído um público mais amplo e, para manter os fãs engajados, têm adicionado remixes mais “clubbers”, com contribuições que já vieram de Prins Thomas, Jimpster e Kim Ann Foxman, por exemplo.

No meio de tantos talentos já revelados ao mundo, uma figura se destaca e dá orgulho para a cena brasileira, Pedro Guinu, artista que produz essencialmente música brasileira guiada por estilos afro-brasileiros como afoxé e ijexá, mas que também empresta seu talento nos teclados para bandas icônicas como Planet Hemp e Baco Exu do Blues. Em setembro do ano passado, lançou por lá o álbum Palagô e agora está novamente estrelando o catálogo da label com uma faixa produzida em colaboração com o duo Bruce Leroys

Os cariocas se uniram para remixar justamente a faixa Amanhã — a 6ª do disco acima — que faz parte da coletânea Family Affair V.3, lançada na íntegra na última sexta, dia 15 de dezembro. A produção, é claro, carrega o frescor da música brasileira e captura a alma dos anos 1970, mantendo a essência do boogie brasileiro, traços da MPB e samba jazzístico, mas agora com novas texturas sonoras e linhas de baixo groovadas que direcionam nossa atenção para o ritmo leve e malemolente do remix. Na pista deve ser uma delícia…

A música conecta.

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