Ultrapassamos a brilhante marca de 15 milhões de segundos desde o dia de lançamento desta coluna. O tempo não para, então até o final desse Textão muitos segundos ainda serão contabilizados nessa somatória. Desde já eu gostaria de informar que não teremos fotos nem vídeos no meio desse texto – desculpa Alataj por quebrar essa regra editorial – precisarei apenas da sua concentração e leitura atenta. Aliás, sobre os números acima, não precisa fazer as contas de quantos dias ou meses equivalem tantos segundos, no último parágrafo você terá essa resposta. Mas não seja ansioso e desça até o final da página, vamos juntos até lá porque nós precisamos conversar sobre um assunto que é de extrema importância para todos nós: cansaço mental.
Sim, você está no site certo. A música conecta, mas viver dela cansa. E provavelmente eu não preciso te lembrar disso, porque eu sei que você está cansado. Eu sei que, às vezes, se concentrar até mesmo nessa leitura que você já abriu o link cansa. Não tenho dúvida que nos últimos nove meses, desde que se instaurou essa pandemia, você já correu para tantos caminhos, já gerou tantos conteúdos, ou até mesmo ouviu e leu uma quantidade absurda de materiais como nunca tinha feito antes. Ou simplesmente não fez nada disso, mas a cabeça não parou um segundo, seja tentando entender o que se passa, ou planejando seu futuro – que com tantas incertezas, não necessariamente é um futuro tão distante, pode ser só o amanhã mesmo.
Não importa se você é DJ de Techno, House, Disco, Deep House, Psytrance, progressivo, EDM. Se é booker, social media, jornalista, performer. Você já se perguntou por que, mesmo com tanto tempo livre, estamos em um estado de exaustão que praticamente consumiu por inteira as nossas forças? Cheguei a uma conclusão óbvia que as diversas rotinas que a gente tentou seguir para amenizar nosso cansaço, também nos deixou cansados, mas um pouco diferente do normal.
Eu não sei se o termo “férias pandêmicas” existe, mas recentemente eu li um artigo que está disponível no site da OMS sobre um novo tipo de fragilidade psicológica, que já afeta 60% da população mundial: o cansaço ou fadiga pandêmica. Ele é denominado como um estado de exaustão física e mental causado por absolutamente tudo que nós temos vivenciado nos últimos nove meses. O que diferencia esse cansaço dos outros é que ele é constante e dificilmente conseguimos chegar em um equilíbrio entre o mental e o físico, porque muito além disso, existe uma tensão externa proporcionada por uma impotência do indivíduo não ter controle sobre a situação de saúde mundial (Covid-19).
Cheguei até esse assunto porque recentemente recebi ótimas notícias profissionais, mas me peguei questionando que, mesmo com todo meu tempo livre e know-how para exercer esses trabalhos, que são realmente incríveis, eu não senti dentro de mim uma empolgação que de fato talvez eu sentiria em tempos normais. Compartilhei isso com alguns amigos, dentre eles DJ’s e produtores de eventos, e para a minha surpresa todos me devolveram com histórias semelhantes sobre os sentimentos relacionados aos trabalhos que têm surgido para eles.
Nós estamos vendo uma volta cada dia mais flexível dos eventos, além de uma vida social resultante do esgotamento mental por estarmos a tanto tempo em nossas casas. Mas precisamos nos questionar se estamos prontos para voltar a uma vida normal, sem parar para refletir nas sequelas que uma pandemia nos causa. E não esquecendo, claro, que não temos uma cura para este vírus ainda. Este estudo divulgado pela OMS, ressalta que um dos principais problemas desta “fadiga pandêmica” é a diminuição na percepção de risco relacionada a Covid-19. E trago essa informação não para fazer julgamento e fiscalizar isolamento de ninguém – eu mesmo já viajei, visitei amigos, família – mas para compartilhar com vocês neste espaço um estudo que impacta diretamente as nossas vidas, principalmente de artistas que possam estar lendo esse texto e que já voltaram ou voltarão a se apresentar em bares, eventos etc.
Recentemente saiu aqui no site um editorial sobre a conscientização do consumo de bebida alcoólica antes de voltar para a pista. Se o nosso corpo não é o mesmo, nosso psicológico consequentemente também não. E já sabemos que uma segunda onda de contaminação e lockdown nos espera muito em breve, como tem acontecido em toda Europa. Mas esse texto não é necessariamente para te fazer pensar nisso, mas para pedir para vocês tirarem um momento de descanso cerebral. Definitivamente nossa cabeça está exausta, nossos prazeres estão desgastados, nosso cotidiano clama pelo novo e até a sua rotina de quarentena pede uma folga.
+++ Saudade da ressaca? Saiba por que você precisa se conscientizar antes de voltar para a pista
Tenho apertado na tecla que antes de acelerar novamente, precisamos nos desligar completamente. E falo sobre desligar de tudo, tirar um momento para ficar só, consigo mesmo, em um espaço longe do que te cercou nos últimos meses, seja ele presencial ou virtual – principalmente o virtual. Dito isto, também vou pegar uma folga aqui no site, porque sinto a necessidade de simplesmente não me esforçar para pensar em nada. Esvaziar a cabeça para poder liberar espaço para novas ideias, novos insights e lidar com mais cuidado com os sintomas que um cansaço pandêmico nos gera.
Vou pausar agora nosso cronômetro marcando 15 milhões de segundos, ou pontualmente 6 meses, mas espero voltar pronto para acelerar mais uma vez, com o tanque cheio para viajar com vocês pelos vários caminhos que o mundo da música pode nos levar.
A música conecta.