A constância nos palcos principais dos maiores festivais de música eletrônica do mundo, o flerte do Swedish House Mafia (um dos maiores símbolos do electronic dance music) em seu retorno às atividades e eventos do gênero cada vez mais cheios são só alguns dos sinais que apontam para o mesmo caminho: a aproximação do techno melódico com o mainstream global. Essa movimentação não é uma questão de opinião, mas um fato.
O Afterlife, selo e festa itinerante, roda as principais capitais pelo mundo com eventos que rapidamente dão sold out com um apelo que conecta o áudio e o visual e o estabelecimento de uma estética que foi fundamental para estabelecer e impulsionar esse movimento. Enquanto o design de som se apoia em constantes momentos épicos e timbragem bem semelhante ao EDM, um conceito quase unânime se forma em torno do visual, pautado principalmente pela criação e popularização das NFTs.
Na vanguarda deste fluxo, estão nomes como o Tale Of Us, fundadores do selo, mas principalmente Matteo Milleri que além de compor o duo mencionado anteriormente, também é o homem por trás do Anyma — seu projeto solo. Na última sexta-feira, dia 11 de agosto, chegou às plataformas de streaming e venda o álbum de debute do projeto, Genesys, que além do forte apelo visual, é inegável que o compilado aproxima mais ainda o techno melódico do mainstream global. Faixas que ficaram realmente muito conhecidas nos últimos meses como Eternity, Consciousness e Syren fazem parte do álbum, além de incontáveis outras que em questão de menos de uma semana já somam milhões de plays no Spotify.
Além da produção de um som mais “palatável”, menos complexo, com mais elementos e drops, todas as faixas são criadas com o mesmo propósito de estimular uma “jornada do herói” sonora com o mesmo objetivo: embalar as projeções no telão que necessitam de constantes momentos épicos. O que antes era uma festa motivada pela música, atualmente se transformou em um espetáculo onde os celulares para cima substituem a necessidade da dança e agora o visual assume o posto do impacto. Essa premissa estética que vem sendo o principal balizador do Afterlife e seus novos lançamentos se distancia de forma concisa, por exemplo, das práticas do selo em 2016, seu ano de lançamento. Se você escutar a versão de Baikal para Wander To Hell, do Vaal, muito dificilmente vai associar ao catálogo da Afterlife.
Embora essa ambiência sonora etérea (muito inerente ao techno melódico) esteja caindo cada vez mais nas graças da grande massa, agora insiro uma opinião própria no texto ao afirmar que esse conceito visual que integra NFTs, Inteligência Artificial, robôs e figuras místicas já está saturando — não precisa ser religioso para sentir o incômodo. Além da ausência de criatividade e boas referências, essa estética com vibe “Ex Machina” já está batida e desgastada — sobra artificialidade, mas falta inteligência.
No entanto, é indiscutível que tal qual Eric Prydz e suas edições do HOLO, a Afterlife foi muito bem sucedida ao transformar a marca em um show cujo cunho audiovisual desperte desejo do grande público em assistir. É importante afirmar também que a aproximação com o mainstream não é algo que demoniza ou invalida o gênero, muito pelo contrário, existe espaço para tudo e todos os movimentos na música eletrônica — e esse é o principal ponto. Constantemente falamos sobre o quão cíclica é o nicho e o quão comum é a sua renovação, inclusive quando o assunto são os gêneros musicais e esse é só mais um ciclo. Seguimos observando…
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