A cena eletrônica brasileira nunca foi estática. Movimentos surgem e desaparecem, ciclos se fecham e se renovam, e novos artistas aparecem para desafiar o que já existe ou propor novos diálogos. E entre os nomes que têm desempenhado um papel para manter a cultura de pista o mais diversa e plural possível, está o de Pedro Mota, o holandês. Vindo de Recife, um território amplo para a experimentação sonora e cultural, o DJ e produtor tem moldado sua identidade artística à margem de gêneros convencionais, navegando por Jungle, Breakbeat, Electro e pela rítmica intensa da música periférica brasileira.
Nascido e criado na Cidade do Mangue, ele absorveu a energia bruta da capital pernambucana e a traduziu em breaks sujos, batidas aceleradas e linhas de baixo distorcidas que evocam o caos urbano e a efervescência cultural do Nordeste. “Minhas músicas sempre carregam algo que remete ao que é nosso. Pode ser na percussão, num sample de vocal ou até na arte da capa. Tento trazer essas referências de um jeito que faça sentido dentro do som que eu faço”, explica.
Mais do que um DJ e produtor, holandês se tornou um nome necessário para essa nova fase da cena eletrônica nacional — uma fase que desafia a centralidade do House e do Techno e incorpora um espectro sonoro muito mais amplo. Das suas referências, é possível ouvir um pouco de tudo, já que ele busca não se definir. “Acho que se definir é se limitar”, diz. “Eu bebo de várias fontes: Côco de Fulô, Choro, Maracatu, Ciranda, Hip-Hop, Breakbeat, Electro… Cada gênero tem algo único a oferecer, e procuro integrar essas referências de forma orgânica em cada projeto”.
A Rotas, coletivo e festa que co-fundou, é um reflexo dessa inquietação. Em um país onde as grandes capitais sempre ditaram as tendências da música eletrônica, ele ajudou a inserir Recife no mapa do som contemporâneo. A label surgiu através da ideia de apresentar uma experiência musical que emerge da fusão de diversas vertentes da música eletrônica, criando um encontro único de culturas urbanas e underground da cidade.

Não demorou para que Recife ficasse pequena. No final de 2024, holandês fez sua primeira turnê pela Europa, tocando em Lisboa, Corunha, Barcelona, Genebra e Berlim, com passagens por clubs conhecidos como Razzmatazz, Lark, Musicbox e La Gravière. Em paralelo, suas faixas também foram parar nos cases de gente importante, de Valentina Luz no Boiler Room a Skrillex no Berghain e RHR no Dekmantel, artistas que reconhecem a autenticidade e a força de seu trabalho.
Agora, com o seu novo álbum NA MIRA, marcado para sair nesta sexta, 11 de abril, ele expande ainda mais sua narrativa. O disco de oito faixas sintetiza essa ímpeto pelas experimentações. MUNDO LOCO, com participação do MC Deox e remixes de BJ3 e Golden Kong, é sem dúvidas a faixa mais impactante e um exemplo claro desse cruzamento de linguagens. JUNKIE DANCE, produzida ao lado de CESRV em outra collab de peso, adiciona mais uma camada à identidade do artista, mostrando como ele consegue transitar entre diferentes ambientes sem fugir da própria essência. “Quero que as pessoas ouçam o álbum e sintam que eu trouxe algo diferente. O que eu não quero é ser visto como um artista previsível ou genérico. Faço questão de sair desse lugar”.
A afirmação acima deixa bem claro que o seu trabalho não é sobre tentar se encaixar em um determinado ambiente, mas sim sobre somar e transformar a cena ao seu redor. E se há algo que tanto o álbum como suas criações em geral deixam claro, é que a música eletrônica brasileira segue sendo múltipla e imprevisível, como sempre deve ser.