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A música conecta

Com maturidade e inteligência, Mezomo está pronto para conquistar seus maiores sonhos

Por Alan Medeiros em Entrevistas 31.01.2018

On Air é a coluna de entrevistas do Alataj

Não é segredo a nossa admiração pela Sunset Sessions, festa que colocou Santa Maria na rota dos principais artistas do mundo da música eletrônica. A história do núcleo fica ainda mais incrível se levarmos em consideração que todo desenvolvimento e crescimento da marca aconteceu logo após a tragédia da Boate Kiss, um dos episódios mais tristes da história do Brasil.

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Em uma cidade marcada pelos resquícios de uma tragédia desse porte, Mezomo, Matheus Brum e todo time da Sunset Sessions criaram um ambiente seguro e confortável para que alguns dos melhores DJs do estado, do país e até mesmo do cenário internacional apresentassem sets memoráveis. Agents Of Time, Los Suruba, Freak Me, Fraken & Sandrino e My Favorite Robot são alguns dos nomes que já passaram por lá – muitos deles com passagem única por Santa Maria no Brasil.

Mesmo em meio a uma agenda intensa de compromissos ligados a festa, Mezomo tem desenvolvido sua carreira artística com seriedade e propriedade. Com gigs em parte das principais festas do cenário e um foco importante no estúdio, Bruno conquistou destaque a nível nacional e recentemente lançou o EP Early Man pela Not For Us. A nosso convite, Mezomo respondeu algumas perguntas sobre o atual momento de sua carreira e da Sunset Sessions. Confira:

Alataj: Olá, Mezomo! Tudo bem? Muita coisa mudou desde a nossa última conversa por aqui. Falando um pouco mais sobre seus trabalhos de estúdio… como tem funcionado seu workflow nos últimos meses?

Mezomo: Olá pessoal, obrigado pelo convite! De fato, a última conversa que tivemos foi em 2015. Desde então, dedico a maior parte de minha energia ao estúdio e venho trilhando essa longa batalha pelo domínio das habilidades técnicas, musicais e mentais necessárias para atingir o sucesso como produtor musical. Consegui dar passos importantes desde a última conversa. Lancei um single pela italiana MoBlack Records, um EP pela Submarine Vibes e outro pela Bullfinch junto com o Bergesch. Preparei a pista para lendas como John Digweed, H.O.S.H e Karmon no D.EDGE, segurei a energia após o Andhim na Levels, dividi as pickups com gigantes na Sunset Sessions.

Em meio às demandas geradas pela Sunset e diversas gigs, busco otimizar o tempo no estúdio, produzindo por longas horas quando possível. O processo de tomada de decisões nas fases de composição e mixagem, principalmente quando se trabalha sozinho, é o que exige o maior empenho e foco. O legal é poder pedir feedbacks dos grandes artistas que já passaram pela nossa pista e viraram amigos, como o Hyenah, Third Son e James Teej que sempre me aconselham!

A Sunset Sessions deixou de ser uma promessa a nível nacional para ser parte do calendário dos principais artistas internacionais que vem ao Brasil. Como você enxerga o atual momento da marca e o que ainda é necessário fazer para seguir evoluindo?

Ao longo de seus mais de cinco anos, a Sunset Sessions conseguiu atingir seus objetivos fundamentais, tendo criado e fomentado uma cena em nossa região, que está mais ativa e movimentada que nunca, além de ter sido reconhecida pelo cenário nacional como um dos importantes eventos itinerantes do Brasil.

São pouquíssimos eventos no território nacional que reúnem mais de quatro mil pessoas numa cidade de interior para curtir um festival de techno e house, como a Sunset Sessions fez este ano. Assim como são raros os eventos que possuem um time tão avançado de artistas que passaram pela sua pista, como Hyenah, Third Son, Agents Of Time, My Favorite Robot, Aquarius Heaven, Blondish, etc.

Dessa forma, hoje a Sunset Sessions é a referência absoluta, falando localmente, e um dos importantes players do cenário, à nível nacional. O que gera uma cobrança ainda maior, pois temos o dever de continuar liderando a vanguarda do pensamento musical por aqui, apresentando à um público cada vez mais antenado e conhecedor o que há de mais interessante e criativo e energizante acontecendo pelo mundo na atualidade.

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Percebo que há uma certa dificuldade por parte dos artistas gaúchos em se estabelecer no mercado a nível nacional. Você também sentiu na pele essa barreira? O que pode ser feito para melhorar esse cenário?

Para estabelecer-se no mercado à nível nacional os artistas podem recorrer à duas estratégias: relacionamento e material. A maior parte dos artistas que estão fora do eixo SP-PR-SC, tem dificuldade em criar este relacionamento com os players que fazem o mercado acontecer.

Portanto, devem depositar toda sua energia em otimizar o seu material, a sua produção, elevando ao máximo a qualidade de suas músicas, para que estas ganhem o destaque à nível nacional e até internacional, acarretando no reconhecimento e estabelecimento do artista no cenário.

Acontece que, para ter sucesso devido ao seu material, leva tempo, tem-se uma longa estrada de conhecimento, mais conhecimento, e depois transformar este conhecimento em um produto que agrade e se diferencie em um mercado bem saturado.

Acredito que há uma boa leva de artistas gaúchos nesta fase de fixação de conhecimento, e que nos próximos tempos veremos estes transformando o conhecimento em tracks relevantes, que vão maximizar o nome do estado como referência na criação de música eletrônica.

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Seu último EP saiu pela Not For Us, gravadora que tem lançado alguns dos melhores produtores brasileiros. Fale um pouco mais sobre o processo criativo desse EP e suas referências para criação

Há algum tempo atrás descobri a obra do artista nigeriano Fela Kuti. Devorei a discografia toda dele e seus contemporâneos e despertei um interesse imenso pela cultura musical africana. Inclusive não consegui compreender como demorei tanto para conhecer e porque tão poucas pessoas conhecem este ícone que criou um gênero musical e revolucionou a história de seu país.

Na mesma época a influência afro começou a marcar presença cada vez maior no cenário techno e house dos artistas que acompanho, tendo inclusive acarretado na criação do gênero Afro House no Beatport no último ano. A energia e musicalidade do gênero são elementos que sempre busquei em meu som, e algo que pessoalmente tenho grande apreço.

Naturalmente comecei a reproduzir estas influências em minhas produções, resultando primeiramente no single NeoAfricanism lançado pela MoBlack Records, importante gravadora italiana deste novo cenário afro, e nas tracks Early Man, inspirada nos rituais musicais dos homens primitivos, e Kalakuta, que contém samples do Fela Kuti e é nomeada com a republica que ele residia em Lagos.

Com o desejo de expandir esta idéia musical no cenário Brasileiro, fui atrás de uma importante gravadora nacional que tivesse influência para que o EP alcançasse o grande público nacional, e assim fechei com a Not For Us! Tem mais coisa nesta linha para sair em breve.

Seu próximo compromisso junto a Sunset Sessions será ao lado do D-EDGE, na tour de 18 anos do club paulistano. Fiquei sabendo que vem algumas atrações bem especiais para essa data… o que você já pode adiantar pra gente?

Tive o prazer imenso de fechar um dos meus produtores favoritos da atualidade e ainda vai ser a primeira vinda dele ao Brasil, mais uma conquista com a cara da Sunset Sessions: David Mayer, artista Keinemusik, Objektivity e Connected Frontline. acho que foi o produtor que mais toquei tracks no ano que passou, o cara é demais, com o som mais afro que nosso público adora cada vez mais!

Também teremos o big boss Renato Ratier e estreias dos grandes Ney Faustini e André Torquatto, além dos pratas da casa Mezomo e Bergesch!

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É interessante analisar como você tem adotado uma postura versátil, mas ainda assim com muita identidade no que diz respeito aos seus DJ sets. Atualmente, como tem funcionado sua preparação para as gigs?

Bastante tempo de estúdio e pesquisa tem como consequência uma lapidação e evolução na linha sonora. Devido à intensa mescla de gêneros, subgêneros e nomenclaturas, foco no que realmente importa, música de qualidade, com energia e originalidade, que desperte sentimentos mais profundos para os que compartilham aquele momento na pista de dança. Pode ser mais techno, mais house, até disco ou afrobeat.

Hoje consigo tocar boa parte das tracks autorais constantemente, junto com aquelas que considero essenciais e desconhecidas, combinadas com promos e novos lançamentos oriundos da pesquisa, que é constante.

O Rio Grande do Sul vive um momento de grande efervescência cultural, com mais pessoas se interessando em consumir arte de maneira mais profunda e verdadeira. O que falta para o estado ser reconhecido como referência artística a nível global?

Com a informação cada vez mais democratizada e de fácil acesso, esta geração que vem surgindo tem cada vez mais possibilidades e conhecimentos relativos à arte. Eu nasci numa cidade de três mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul e apesar disso hoje consigo viver de arte e fomentar a arte.

Essas situações são cada vez mais corriqueiras, e portanto acredito que, dando tempo ao tempo para que esta nova geração se desenvolva e se expresse ainda mais, os criadores, pensadores e artistas daqui vão estabelecer-se como relevantes e irão elevar o reconhecimento do estado à um nível maior.

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Para finalizar, uma pergunta pessoal. Nós enxergamos a música como uma forma de conexão entre as pessoas. E para você, qual a razão da existência dela na vida humana?

A música faz apreciar o momento presente. A harmonia e o ritmo capturam toda a sua atenção, naquele momento você esquece os seus problemas passados, deixou de estar inseguro pensando no futuro e tudo o que permanece na mente naquele instante é o que está soando no ar. Essas pequenas fugas mentais que a música proporciona são essenciais para viver neste planeta!

A música conecta as pessoas! 

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