No dia 21 de setembro de 2025, São Paulo receberá dois shows gratuitos de Vintage Culture – o anúncio foi feito na tarde de quarta-feira (07) em um post collab entre o DJ brasileiro e o prefeito da maior cidade do país. As apresentações, organizadas pela prefeitura e com apoio da SPTuris, ocorrerão no Parque do Carmo, na Zona Leste, e no Parque do Povo, na Zona Sul. A entrada será mediante a doação de 1kg de alimento não perecível ou ração para animais.

O anúncio desses eventos surge em um contexto político em que grandes shows gratuitos têm sido utilizados por administrações municipais como ferramentas de engajamento popular e promoção cultural, tendo seus principais exemplos nos dois mega shows que o Rio de Janeiro recebeu em 2024 e 2025, com Madonna e Lady Gaga, respectivamente. A decisão da prefeitura de São Paulo de investir em eventos semelhantes indica uma estratégia alinhada a essa tendência, buscando oferecer acesso à cultura e fortalecer a imagem da cidade como um polo cultural conectado à música eletrônica – o que a história reafirma e não nos deixa mentir. Mas quais são exatamente esses pontos de conexão?
A realização de shows gratuitos de música eletrônica patrocinados pelo poder público representa um avanço significativo na valorização de um gênero que historicamente enfrentou marginalização e estigmatização. Três pontos na conta, é uma vitória, sem dúvidas. Durante décadas, a música eletrônica foi associada a espaços alternativos e frequentemente alvo de preconceitos e repressão. O apoio institucional a eventos desse porte sinaliza um reconhecimento da importância cultural e econômica do gênero, além de promover sua democratização.

No entanto, é importante analisar criticamente a abrangência e os impactos desses investimentos, principalmente considerando uma linha do tempo mais ampla. Embora eventos de grande escala como os shows de Vintage Culture ampliem o acesso à música eletrônica, eles também podem reforçar a concentração de recursos e visibilidade em artistas já estabelecidos (não apenas no que diz respeito a cachês, mas também no que diz respeito a infraestrutura cultural), deixando de lado a diversidade e a riqueza das cenas locais e independentes – sendo este um ponto de importante atenção.
Coletivos, clubs e artistas emergentes desempenham um papel fundamental na inovação e na sustentação da cultura eletrônica, mas frequentemente enfrentam desafios significativos para obter apoio e reconhecimento do poder público. Se o anúncio de ontem e outras iniciativas nesse sentido sinalizam um momento de possível mudança dessas tendências históricas, ótimo. Mas se não, o que realmente fica?
Para que o investimento público em música eletrônica seja verdadeiramente eficaz e inclusivo, é necessário adotar políticas culturais que contemplem tanto os grandes eventos quanto as iniciativas de base. Isso inclui o apoio a espaços independentes, programas de incentivo à renovação do público junto aos players nativos desta cena e a criação de mecanismos que facilitem a realização de eventos menores também conectados ao poder público. Além disso, é fundamental garantir que a regulamentação e a fiscalização não se tornem obstáculos para as cenas do underground, mas sim instrumentos que assegurem seu desenvolvimento no sentido mais amplo da palavra.
Investir em cultura é investir na economia local, na coesão social e na identidade coletiva. O poder público tem a responsabilidade de promover a diversidade cultural, garantindo que todas as formas de expressão artística tenham espaço e recursos para florescer – do Forró ao Techno. Os shows gratuitos de Vintage Culture em São Paulo são um passo positivo nessa direção, mas devem ser acompanhados de uma política cultural mais abrangente e equitativa, que reconheça e valorize toda a complexidade e pluralidade da música eletrônica brasileira.