OMOLOKO, Laurent Garnier e agora Dasha Rush. Embora soem distintos e talvez até desconexos, existe algo em comum e que é inegável dentre a atuação dessas três figuras: todos construíram carreiras enquanto seletores que merecem o devido reconhecimento e tributo — aliás, é exatamente o que a Diggin Essence busca fazer. Chegando à terceira edição, tendo como protagonista essa verdadeira força autêntica que é Dasha Rush — vale lembrar que ainda passarão por esta coluna Marcio S. em novembro e Sol Ortega em dezembro, encerrando a primeira temporada.
Colocar a atuação de Dasha Rush dentro de caixinhas ou quaisquer tipos de rótulos é praticamente impossível. Figura marcante na música eletrônica contemporânea, Dasha é amplamente conhecida pela habilidade em criar pontes entre diferentes formas de arte, que inclusive quebram barreiras sonoras e visuais. DJ, produtora e artista interdisciplinar, sua atuação vai além das pistas de dança tradicionais, explorando territórios menos convencionais da música experimental e da tecnologia. No entanto, o som promovido pela produtora merece um destaque à parte, já que é produto de um minimalismo experimental encorpado através de um Techno denso, explorando uma paleta sonora profunda, introspectiva e mutável.
Suas composições são conhecidas por contrastar paisagens industriais com texturas melódicas sutis, resultando em uma música completamente a parte do “techno de pista”. O resultado é um som que muitas vezes transita entre o abstrato e o envolvente, trazendo uma experiência imersiva e artística, e que difere de tudo o que se conhece até aqui. E diga-se de passagem, o trabalho de Rush é de fato profundamente imersivo, muitas vezes construído em torno dessas paisagens sonoras. Já em suas performances, seja através do uso de sintetizadores modulares, analógicos e/ou processamento digital, Dasha incita uma atmosfera musical que parece existir distante das réguas das tendências com data de validade, ao mesmo tempo em que mantém uma conexão clara com o futurismo e os sons de vanguarda.
Não à toa Dasha é uma verdadeira campeã em conectar a música eletrônica com outras manifestações artísticas, como balé, cinema e até instalações. Esse perfil único faz dela uma das figuras mais inovadoras e respeitadas no cenário da música eletrônica mundial, selada por uma visão que claramente vai além dos limites da própria música.
Abordagem artística interdisciplinar
Sua paixão pela experimentação a levou a criar projetos em colaboração com bailarinos e artistas visuais, fundindo a performance musical com elementos visuais em tempo real. Em vez de restringir sua atuação ao papel tradicional de DJ e produtora, Dasha explora o cruzamento entre sons abstratos e composições eletrônicas, com instalações imersivas que transformam o espaço em um elemento-chave de suas apresentações.
Esse enfoque interdisciplinar permite que Dasha amplie os limites do que a música eletrônica pode ser, criando experiências que desafiam tanto a audição quanto a percepção espacial. Um exemplo disso é seu projeto com o bailarino e coreógrafo francês Emmanuelle Vo-Dinh, no qual a música e o movimento se entrelaçam, criando uma narrativa não-linear que estimula a participação sensorial do público.
Multidimensionalidade cultural
Esta multi artista nasceu na Rússia e atualmente vive em Berlim, dois pólos culturais que influenciaram profundamente seu trabalho. Sua trajetória pessoal e artística reflete essa fusão de culturas: as raízes eslavas trazem ao seu trabalho uma certa introspecção e melancolia, enquanto a efervescente cena eletrônica berlinense oferece o contraste futurista e de vanguarda que caracteriza sua música. Essa mistura de influências culturais lhe permite criar uma narrativa musical que flui entre o passado e o futuro, ancorada em uma perspectiva cosmopolita.
A vivência em diferentes partes do mundo também moldou a forma como Dasha se relaciona com seu público. Ela não se limita a um único contexto, mas se adapta e absorve as nuances culturais de cada lugar por onde passa. Isso se reflete em suas colaborações globais, tanto com artistas quanto com espaços de performance, demonstrando sua capacidade de transitar por diferentes universos com fluidez.
Paisagens sonoras que contrapõem vanguardismo e futurismo
A música de Dasha Rush muitas vezes explora paisagens sonoras que contrapõem o vanguardismo com o futurismo, através da constituição de um som denso e atmosférico, conduzindo o ouvinte a uma viagem entre o abstrato e o concreto, o conhecido e o desconhecido. Esse som que ela cria se caracteriza por uma textura rica, cheia de camadas, onde os ruídos industriais se fundem às batidas minimalistas, evocando uma sensação de deslocamento temporal.
Seus sets e produções tem sempre um tempero inesperado, rejeitando estruturas previsíveis e criando uma narrativa sonora que sucede e até coloca em questionamento o futuro da música eletrônica
Exploração tecnológica
A exploração tecnológica é outro aspecto crucial do trabalho de Dasha Rush. Fascinada pelas possibilidades que a tecnologia oferece à música, ela utiliza equipamentos e softwares avançados para moldar seu som. Desde sintetizadores modulares até técnicas de processamento de áudio digital, Dasha explora todas as ferramentas à sua disposição para criar algo verdadeiramente inovador. Ela também é conhecida pela habilidade em manipular sons ao vivo, tornando suas apresentações únicas e imprevisíveis.
Essa constante experimentação com tecnologia não se limita ao estúdio e às apresentações. Dasha também colabora com artistas de novas mídias, integrando vídeo, luz e som em instalações que buscam romper a barreira entre o físico e o virtual.
Colaborações e selos
Ao longo de sua carreira, Dasha Rush colocou a colaboração artística no topo das suas prioridades. Ela soma diversos projetos colaborativos com artistas, DJs, produtores e selos renomados, o que ampliou ainda mais sua influência e alcance. Um dos marcos em sua carreira foi o lançamento de suas produções pela renomada gravadora Raster-Noton, conhecida por sua estética minimalista e experimental. Além disso, Dasha fundou a Fullpanda Records, uma plataforma que oferece um espaço para artistas que compartilham sua visão experimental.
Essas colaborações reforçam a importância de Dasha não apenas como uma grande artista multidisciplinar, mas como uma curadora de novas sonoridades, ideias e oportunidades. Trabalhando com artistas de diversas áreas, ela tem ajudado a redefinir o que a música eletrônica pode alcançar, sempre buscando novos desafios e colaborações que expandem seu horizonte criativo.
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