Por Manoel Cirilo
Disco e house são consideradas parte do movimento precursor à música eletrônica como conhecemos hoje. Desde o surgimento dessas novas formas de fazer música nos Estados Unidos, durante o final da década de 70, a indústria eletrônica se espalhou por todo o mundo e se desenvolveu muito até aqui. Atualmente, são catalogados mais de uma dezena de estilos sonoros diferentes sob o guarda-chuva da música eletrônica, são tantos que fica até difícil para quem não tem tanto conhecimento conseguir definir cada um deles.
Dentre todos os estilos considerados nos dias de hoje, o house progressivo foi um dos que mais sofreu para ser compreendido e definido. Surgido em meio à cena underground da Inglaterra no início dos ano 90, ele mistura nuances sonoras inspiradas no psy trance, estilo em maior ascensão na cena underground da época, com elementos emprestados da house music de Chicago. Essa vertente se caracteriza principalmente pelo crescimento das faixas, que começam melódicas e recebem novos elementos lentamente e de maneira progressiva, como o próprio nome sugere.
+ Special Series: John Digweed
Essa nova vertente eletrônica foi observada inicialmente em sets de grandes nomes da indústria atual, com destaque para os britânicos Sasha e John Digweed, que cunharam o progressive house. Não raro, esse movimento criado por eles é associado ao EDM, que abrange principalmente o estilo conhecido como big room. A principal diferença entre ambos, no entanto, é que o EDM se baseia principalmente em faixas com longos breaks e drops agressivos, sem nenhuma progressão, de fato.
Por causa dessa confusão de nomenclatura, cuja fase crítica perdurou alguns anos, o house progressivo perdeu boa parte de sua aderência no início dos anos 2000. Nem por isso, se tornou menos relevante ou deixou de ter o suporte dos principais nomes do estilo que ganhavam espaço na indústria durante essa época, entre os quais precisamos destacar o argentino Hernan Cattaneo, com seus aclamados sets introspectivos, e o alemão Dixon (apesar de não estar intrinsecamente ligado ao estilo), que ganhou grande notoriedade no gênero durante essa época.
Em solo brasileiro, esse movimento encontrou grande receptividade desde que surgiu no cenário, especialmente na região sul. O próprio Hernan Cattaneo é figura carimbada na pista de clubes como o Warung, com diversas passagens por lá durante os últimos anos. Mas não são apenas os DJs internacionais, aos quais podemos somar, entre tantos outros, Guy J, Guy Mantzur e Lee Burridge, todos com grande representatividade dentro do país, que garantiram a entrada definitiva do house progressivo para o coração dos brasileiros.
O hoje mundialmente conhecido DJ Morttagua foi um dos pioneiros do estilo em terras tupiniquins. Desde o início de sua carreira, ele levanta a bandeira do house progressivo no país e chegou a criar uma gravadora dedicada ao estilo, a Timeless Moment. Art in Motion, alter ego do DJ Vicente Amadeo, é outro que explora as melodias dessa categoria em suas produções, entregando ao público uma musicalidade envolvente e repleta de emoção. Em um país como o Brasil, ainda jovem no contexto da indústria eletrônica e detentor de uma cultura musical completamente diversa, é difícil pontuar exatamente o que tornou o house progressivo tão conhecido e bem aceito. O que é inegável, no entanto, é que o país tem exportado cada vez mais novos talentos que crescem na cena mundial e produzem seu som sob esse rótulo.
Um dos destaques dessa nova geração é o DJ e produtor Hauy. Atualmente baseado no Canadá, o artista possui uma musicalidade sólida e trabalhada com perfeita maestria sobre os pilares do estilo. Não à toa, ele foi o único brasileiro a divulgar uma faixa pelo novo selo do gigante Lee Burridge, a Tale & Tone, que produziu ao lado de Jonathan Rosa. Hauy tem desenvolvido seu perfil sonoro muito conectado as melodias que tanto marcaram os sets desses grandes produtores e, por isso, pode ser considerado um dos grandes nomes a se observar dentro do progressive house em um panorama global.
Outro nome que não pode ficar de fora é o da catarinense BLANCAh, que permeia seu som entre o house progressivo e o techno melódico, e é uma das únicas brasileiras assinadas pelo poderoso selo Steyoyoke, gravadora que a presenteou com um remix do maestro Cattaneo em uma de suas faixas. Nós podemos até não saber o que deixou os brasileiros tão encantados por esse estilo, mas uma certeza nós temos: ele voltou a ganhar força no contexto mundial nos últimos 2 anos e ainda vai crescer muito mais dentro do nosso país. Estamos curiosos para acompanhar os próximos capítulos dessa história.
A MÚSICA CONECTA.