Se você parar para analisar o contexto geográfico e cultural dos países escandinavos, em especial a Noruega, é surpreendente encontrar tantas figuras talentosas dentro da Dance Music que vieram daquela região. Afinal, quem diria que das terras montanhosas e gélidas floresceria uma cena tão imponente, cheia de vida e de personalidade? Pois bem. De tantos gênios notáveis, um deles é o homenageado da vez em nosso Special Series: Lindstrøm.
É claro que, assim como na história do surgimento e crescimento do cenário eletrônico da Noruega, a relação de Hans-Peter Lindstrøm com a Dance Music foi completamente aleatória. Sua formação artística é um conjunto de uma participação no piano em um coro gospel, tocando órgão em uma banda que homenageava o Deep Purple e muita música Folk e Country. Ah, teve também a fase onde ele se cansou da música, vendeu seus instrumentos e mudou-se da pequena Stavanger para estudar literatura na Universidade de Oslo.
+++ Mergulhamos na tradição da Noruega frente a cena Disco
Ok, mas… quando e de onde vieram os timbres distorcidos, as atmosferas espaciais, com um bocado de Disco e Electro, graves quebrados e uma singularidade sonora tão característica quanto genial? Do acaso. Lindstrøm comprou um violão, depois um sampler, pegou emprestado alguns discos para estudar a estrutura sonora da Dance Music e resolveu experimentar. E é exatamente isso que o torna tão único. Ele foi desprendido de qualquer amarra estilística ou tendência e colocou em sua música todas as suas influências, principalmente do Rock e Pop dos anos 60 aos 80.
O primeiro lançamento que se tem registrado é através do pseudônimo Slow Supreme e logo de cara já agrada algumas pessoas, mas tamanha personalidade não foi recebida de braços abertos pelas gravadoras, que não demonstraram muito interesse em compartilhar suas criações. Então, antes mesmo de lançar a própria música como Lindstrøm, ele deu vida a Feedelity Recordings, label criado em dezembro de 2002 para que pudesse lançar seus discos da maneira mais honesta possível, sem precisar fazer concessões a ninguém. O primeiro trabalho? Um EP sem título em 2003, com quatro faixas que já diziam muito do que viria pela frente em sua carreira.
Desde então, o reconhecimento foi gradativo e sem nenhum passo para trás pois, mal ele tinha colocado seus pés no cenário da música, veio a faixa I Feel Space em 2005, que colocou o artista em um patamar elevadíssimo dentro do cenário da Dance Music. Os arpejos em baixo tom, dando um ar “sério” ao Disco, as melodias muitas vezes em repetição que levam o ouvinte a um transe, a base marcada, percussão bem elaborada… Escutar I Feel Space é viajar longe na mente enquanto o corpo se recusa a ficar parado.
Em 2005 o artista também lança seu primeiro álbum em colaboração com um dos seus maiores parceiros de estúdio e cabine, Prins Thomas, e, sem quase sair da Noruega, ele já integrava o time de artistas cult da música eletrônica, lugar que nunca mais deixou, já que seguiu ao longo de sua carreira um fluxo consistente de álbuns, EPs e singles altamente elogiados e remixes aclamados para nomes como Franz Ferdinand, The Killers, LCD Soundsystem e Flume. Como DJ, ele também cresceu estrondosamente e passou a ser requisitado em tantos cantos do mundo que se pudesse imaginar.
Não bastasse o sucesso dentro das pistas, Lindstrøm foi indicado para o Grammy norueguês, Spellemannsprisen, por quatro vezes e ganhou três delas. A primeira vitória foi com o álbum It’s a Feedelity Affair, em 2006, o segundo prêmio veio com Where You Go I Go Too, em 2008, e em 2010 foi premiado juntamente com a cantora e também parceira de longa data Christabelle, pelo álbum Real Life Is No Cool. Ele também seguiu produzindo álbuns cada vez mais experimentais com seu colega Thomas, sendo o último lançado no ano passado.
Mas, como a singularidade envolve a carreira de Lindstrøm desde sempre, o artista não se empolgou com o estrelato e manteve-se com seus pés no chão e mente focada apenas em sua música, sem medo da experimentação e dos julgamentos alheios. Ele tem controle total sobre suas criações e publicações, lançando praticamente todas as suas faixas em seu próprio selo até hoje, que trabalha em colaboração com o label Smalltown Supersound, de Oslo, cidade onde vive.
A música conecta.