A decisão de seguir um sonho e viver de música não é fácil para nenhum DJ, especialmente se o artista em questão vem de uma região completamente fora da rota eletrônica e prefere comandar todas as suas produções de forma independente para evitar ser engolido pelas grandes gravadoras. Porém, difícil não significa impossível e o sul-africano Black Coffee foi muito além de apenas viver da sua arte para se consagrar como um dos maiores nomes da história da dance music no continente africano.
Nkosinathi Maphumulo, identidade original de Black Coffee, nasceu em Umlazi, a quarta maior cidade da África do Sul e nem por isso um município menos atingido pelas difíceis condições sociais que permeiam todo o continente. Quem o vê tocando nas principais pistas do circuito internacional, entre as quais destacamos as performance no Ballentines’ Boiler Room, Sónar Barcelona e Cercle, pode até achar que seu desenvolvimento na cena foi fácil ou aconteceu de forma meteórica, como muitos artistas da atualidade que conhecemos, mas a realidade é bastante diferente disso.
Aos 14 anos, Maphumulo encontrou o primeiro grande desafio para iniciar sua caminhada pelo mundo da música. Ele celebrava a libertação do líder Nelson Mandela da prisão em meio a uma multidão quando foi atingido por um carro e perdeu completamente os movimentos de seu braço esquerdo. Mesmo tocando com apenas uma mão, conseguiu superar qualquer obstáculo que a lesão poderia oferecer para discotecagem e transformou isso em um de seus diferenciais.
Maphumulo começou a fazer música eletrônica em 1997, 7 anos após o acidente. Suas raízes musicais estão principalmente ligadas à tradição africana e ao jazz, gênero no qual se especializou durante a faculdade de música. Depois de terminar os estudos ele se juntou a mais dois amigos para formar a banda de urban soul Shana (Simply Hot And Naturally African) e, em paralelo, começou a dar vida ao projeto solo que intitulou de Black Coffee.
Apesar de grandes sucessos datarem do início de sua carreira, como o remix para a faixa Cause I Love You, de Lenny Williams, a notoriedade de Black Coffee na cena musical sul-africana teve seu primeiro lampejo em 2003, quando ele foi selecionado como um dos participantes do Red Bull Music Academy. Dois anos depois, em 2005, Black Coffee inaugurou o próprio selo musical, Soulistic Music, para lançar suas produções de forma independente. A gravadora também ajudou a revelar nomes como Argent Dust, Enoo Napa e Culoe de Song.
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Desse momento avançamos direto para 2014, ano em que Black Coffee fez sua estreia em Ibiza como parte do line up da famosa festa Circoloco e confirmou sua entrada definitiva no mercado internacional da música eletrônica. Até chegar a esse feito o artista já era um dos maiores DJs dentro do continente africano e contava com 3 álbuns full length, uma série de outras produções independentes, algumas datas fechadas fora do continente natal e um DVD ao vivo gravado durante um evento do Africa Rising, com a participação de uma orquestra e uma série de cantores interpretando suas músicas.
A influência de Black Coffee ultrapassa as fronteiras da música eletrônica. A faixa Superman, lançada com 2010 com vocais da cantora sul-africana Bucie, foi remixada pelo rapper Drake e deu origem à canção Get it Together, um dos maiores sucessos da carreira do americano. Alicia Keys também se rendeu ao som envolvente de Maphumulo com um remix feito por ele para a sua faixa In Common.
Todo sucesso conquistado fora da África e o reconhecimento mundial que Black Coffee possui atualmente só fizeram com que o artista se voltasse ainda mais para sua terra natal. O artista é embaixador do projeto Bridges For Music e fundou a própria Black Coffee Foundation, ambas voltadas para o auxílio a jovens e crianças em situação de vulnerabilidade. A fundação criada por ele possui ainda uma bolsa de estudos em parceria com o SAE Institute, uma das mais conhecidas escolas de música do mundo. Um artista genuinamente talentoso e consciente de sua força frente ao seu povo e a indústria o qual atua.
A música conecta.