Quando decidi escrever essa Carta da Redação vi todo o texto em minha mente e um roteiro perfeito foi criado em poucos minutos. Maravilhoso, pensei eu. Mas na hora em que sentei para materializar minha ideia em palavras não poderia acontecer outra coisa na vida de Lauren senão aquela tradicional tela azul. Não que eu não saiba mais o que escrever, o script segue belíssimo, mas é tipo quando você ensaia mil vezes seu discurso pra aquela conversa séria e na hora dá o famoso branco, sabe? É que, de fato, essa é uma conversa séria. Bom, vou tentar seguir a ideia inicial.
Me lembro a primeira vez em que tive vontade de trabalhar com música eletrônica na vida (senta que lá vem história). Fui convidada para ir ao Club Vibe em 2007 para ouvir um tal de Gui Boratto. Mas quem diabos é Gui Boratto?, perguntei. Tadinha. Quando cheguei no club, fiquei absolutamente encantada por aquele ambiente pequeno, minimalista, com cortinas vermelhas e pesadas de veludo, um palco baixo, quase na altura do público, encostado à parede direita, pessoas vestidas de qualquer forma pouco se importando para olhares e julgamentos alheios e o som, ah, o som!! No meio daquilo tudo pensei seria muito legal trabalhar com música eletrônica, né?
A partir dali eu sabia (real) que me envolveria com isso em algum momento da vida. Durante a faculdade entreguei flyer em bares, fiz divulgação nas redes sociais, ajudei amigos nas festinhas de seus núcleos e saía dançar. Muito, aliás. Já formada and advogada, me vi um pouco afastada dessas atividades por conta da profissão – menos da pista de dança, que fique claro -, até que a ideia de fazer uma festa com amigos surgiu em 2015 e há! Eu sabia que meu momento chegaria. O que eu não sabia é que ele me levaria tão longe. Larguei a advocacia, me especializei em produção de eventos, colaborei para o crescimento da Sharp Movement, trabalhei em agências de bookings e, enfim, me conectei com o Alataj e descobri uma paixão absurda pela comunicação através da escrita.
O convite para assumir a posição de editora-chefe do Alataj aconteceu pouco tempo depois do meu primeiro texto e vinha com uma série de grandes responsabilidades que me assustavam, mas ao mesmo tempo me deixavam muito animada. Para além disso, o próprio Alataj sofreu grandes transformações meses depois, mudou sua sede para Curitiba, aumentou o time e passou a lidar com muitos desafios, que se multiplicaram em virtude da pandemia. Eu tive o prazer de acompanhar de pertinho e dar minha contribuição para muitas dessas mudanças.
Foram quase dois anos escrevendo conteúdos praticamente todos os dias, buscando novos artistas para apresentar em podcasts e colunas, bolando perguntas para dezenas de entrevistas, fazendo e refazendo vídeos na esperança de que não me embaralhasse no caminho, pesquisando materiais mirabolantes para sair do óbvio, estudando novas formas de escrever com criatividade e coesão para você ler tudinho sem sair da página, pesquisando a história de artistas e a discografia de labels para trazer o melhor material que pudesse. Ao todo, apareci por aqui 705 vezes. Dessas, 120 foram em entrevistas.
Falando em entrevistas, tive o prazer e honra de perguntar o que quisesse para artistas que jamais imaginava que faria algum dia na vida. Mark Night, Luke Slater, Axel Boman, Lauer, Massimiliano Pagliara, Spencer Parker, Jeff Mills (!!!), Anabel Englund, DJ Spen, Hot Since 82, Kevin Yost… eu entrevistei Richie mdfckng Hawtin!! Todas as conversas que tive, seja por escrito ou via Zoom, me trouxeram algum aprendizado de novas culturas, hábitos, conceitos sobre música, mercado e muito mais. De todas elas, destaco o bate-papo que rolou com Stefan Goldmann, uma verdadeira aula que recomendo a leitura frequentemente (e agora também).
O Alataj me aprofundou no universo da música eletrônica de uma forma tão intensa que todos os dias ele me lembrava que quanto mais eu sabia, menos eu sabia. Fui desafiada a escrever sobre temáticas que me fizeram bater os pinos algumas vezes – Afinal, como realmente saber o que é ser DJ? – chorei largado tentando entender por que o Daft Punk acabou e gargalhei sozinha recordando de uma das noites mais inusitadas que já vivi em um club. Tudo isso do meu jeitinho, sem cortes, sem briefing. Tive a oportunidade de me expressar da maneira que quis e colocar minha opinião sem filtro, e por isso agradeço muito.
Mas o que relatei agora não teria acontecido de forma tão espetacular se não fosse esse time incrível que realmente faz o Alataj acontecer. As conversas (ao vivo ou online), as risadas, a compreensão, as trocas de figurinhas musicais, de ideias inovadoras, opiniões divergentes – de onde nasciam boas temáticas -, os ombros amigos nos momentos de dificuldade, abraços virtuais e apoio total. Tive a honra de introduzir e trabalhar com três dos meus melhores amigos da vida e também conhecer outras pessoas especiais e tão apaixonadas por música como eu. Justamente por todas essas, foi muito difícil chegar neste momento.
A este ponto você já imagina o que quero dizer. Diz Gonzaguinha que “são coisas dessa vida tão cigana…”. Uma hora você chega e na outra vem a cigarra no peito querendo cantar noutro lugar. Assim é comigo. E assim encerro minha missão como editora-chefe no Alataj para viver mais uma aventura nesse mundo. Com um aperto no coração, que hoje, mais do que todas as vezes, é quem digita estas palavras. Com total gratidão a tudo o que aprendi e realizei aqui e com a certeza de que fui a melhor que podia, dentro das possibilidades que tinha em minhas mãos.
Agradeço a todxs que estiveram comigo nessa jornada. Colegas do office, artistas, profissionais do ramo, leitores e leitoras, amigos, amigas, namorado e família. Foi lindo. Continuará lindo. Afinal, o Alataj segue sua missão de conectar pessoas através da música. Foi o maior e mais belo ensinamento que levo daqui e seguirei propagando. Aquele beijo no coração de cada um de vocês.
Lauren.
A música conecta.